6 de jun. de 2007

Um pouco da Ásia - parte XXX - A conquista da Grande Muralha


Após resistir às investidas dos mais diversos inimigos, a Grande Muralha se rendeu ao comércio informal – é a conclusão óbvia, quando descemos os últimos degraus, ainda sob o impacto da visão surpreendente, e damos de cara com as coloridas bancas dos camelôs.

A movimentação dos turistas é intensa e ruidosa. AS mercadorias são variadas: boas imitações de bolsas Fendi, Gucci, Prada, Versace, além das sedas e do artesanato chinês. As bancas dos camelôs são alegres, muito vermelho, azul e amarelo nos tecidos que os prováveis compradores examinam, testando a qualidade. As compras podem ser feitas em dólares americanos, sempre com a ajuda da calculadora, para contornar as dificuldades com o idioma.

Cansados da subida na muralha, sentamos num bar para recuperar as forças, a fim de melhor enfrentar as inevitáveis negociações. Enquanto bebemos uma cerveja gelada, observamos a atuação de Sílvio, um dos companheiros de excursão.

À porta da loja onde as peles de raposa estavam penduradas, ele parou, mostrando-se interessado. A dona da loja se aproximou e a negociação começou. Atraídos pela divertida barganha, aos poucos outros companheiros de excursão se aproximaram e ficaram observando também. Quando ele conseguiu chegar ao irrisório preço pretendido, realizou a compra. Mas aí os companheiros estavam entusiasmados e queriam usufruir da vitória obtida. Sílvio, então, recomeçou a negociação, agora para cada um dos outros, até conseguir o mesmo preço.

Sentados no bar na calçada em frente, rimos sem parar. Até que, por fim, acabam as raposas e cada um sai com a sua, realizados todos com a pechincha. A dona da loja finge indignação, em gestos eloqüentes, mas a verdade é que realizou muitas vendas, entre as raposas e os outros artigos que os turistas foram vendo e comprando. Quanto a eles, têm outra missão pela frente: descobrir onde usar as peles, já que moram em Belo Horizonte, cidade de clima quente. Pelo menos, esse é o comentário bem-humorado, quando retornamos ao ônibus que nos conduzirá de volta a Pequim.

No caminho para Pequim, passamos entre duas cordilheiras, com a vegetação nos costumeiros tons avermelhados e amarelados. Chamam a atenção os terraços de arroz, escavações feitas nas montanhas, acompanhando as curvas de nível _ prática iniciada pela cultura Hani, dos escultores de montanha. Em certo ponto, abaixo das montanhas, várias árvores com caquis. Em outros, conjuntos de casinhas brancas. A paisagem linda torna a viagem muito agradável, nada cansativa.

No extremo sul da cidade de Pequim, o ônibus estaciona, para que possamos conhecer o Templo do Céu, onde os imperadores das dinastias Ming e Qing ofereciam sacrifícios aos céus e oravam por boas colheitas. Um altar de mármore marca o centro do mundo antigo conhecido, local de acesso permitido só ao imperador.

Em 1998, o Templo do Céu foi considerado Patrimônio Cultural do Mundo, pela UNESCO.
Construído durante a dinastia Ming, ocupa uma área de 2,73 milhões de metros quadrados. Segundo a concepção da época, o Reino do Centro estava situado abaixo do centro do firmamento. Quanto mais longe estivessem os povos e culturas que habitavam a escura periferia da Terra, mais abaixo estariam na hierarquia cósmica.

Povos do norte e do oeste, incluída a Europa, eram considerados bárbaros. Da mesma forma, a China foi considerada bárbara pelos europeus, através de séculos. O desconhecimento da cultura e dos costumes dos outros povos faz com que, aos olhos estrangeiros, passem por mal-educados. Na China, estranhamos os modos dos chineses às refeições, pegando certos alimentos com os dedos para levá-los à boca, comendo com avidez. Também é chocante para nós, ocidentais, o costume de cuspir longe, na maior sem-cerimônia. Contudo, pela maneira como nos olham, eles da mesma forma devem nos considerar muito estranhos.

Parece que o mundo ainda não é a aldeia global que imaginamos.

Bem, amanhã deixaremos Pequim. Vamos para Hong Kong.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!

Os achamos diferentes e eles nos acham estranhos. Assim também acontece com o conceito que temos do bem e do mal, do bem feito e do mal feito, do bonito e do feio.Porisso acredito que antes de mais nada, ao sairmos para visitar países outros, é deveras importante sabermos aonde vamos e o que iremos encontrar, para saborearmos tudo com mais vigor!

Beijos da Ruthe