6 de out. de 2007

Confidências

Esses problemas que nos roubam noites de sono, os mesmos que infernizam os dias, podem estar apenas mal equacionados _ já parou pra pensar? Por isso, para as outras pessoas, os nossos problemas não parecem tão sérios. Distanciados, têm maior facilidade para encontrar as saídas que o nosso envolvimento nos impede de ver.

Daí a importância de um ouvido amigo. Mas não é em qualquer um que podemos depositar confiança, como também não é fácil encontrar ouvidos atentos.

Antigamente, era costume _ principalmente por parte das mulheres _ o aconselhamento com os sacerdotes. Além do apoio espiritual, havia a garantia proporcionada pelo segredo de confissão, obtida no confessionário das igrejas. Com a maior compreensão do trabalho dos psiquiatras e psicólogos, também esses passaram a ser procurados, cada vez com maior freqüência e confiança, inclusive pelo compromisso ético de guardarem segredo sobre as confidências ouvidas.

Muitas vezes, uma simples meia hora de conversa com alguém da nossa confiança ajuda a elaborar o que nos atormenta. Alguém que nos deixe falar sem interrupções, sem sermões, de forma a deixar as soluções surgirem antes mesmo que a frase chegue ao final. Quase sempre, o que nos atrapalha na busca das medidas adequadas a cada caso são justamente as emoções, embaralhando fatos reais e suposições. Quando conseguimos organizar os pensamentos e concatená-los em frases, de forma a nos fazermos entender pelo outro, de repente o panorama fica claro, não só para o interlocutor, também para nós.

Esse é o papel dos amigos, muitas vezes: ouvir. Apenas ouvir. Conforme fazemos curvas, nos perdemos em desvios e derrapamos nas desculpas que fornecemos a nós ou aos outros, passamos a enxergar as setas iluminadas apontando o rumo certo.

O bom ouvinte não interrompe; demonstra interesse no olhar atento, nas aquiescências discretas, no leve movimento da cabeça, em uma ou outra pergunta, para melhor conduzir o fio da história. O bom ouvinte não corta o assunto do outro pela metade, porque lembrou de um fato parecido que lhe ocorreu ou porque tal assunto até parece aquela piada...que ele começa a contar, acabando de interromper. Ouvir é uma arte.

O bom ouvinte não se atém só às palavras. Ouve com os ouvidos, com os olhos e com os sentimentos.

Aliviado do peso dos seus problemas, pelo fato de tê-los externado e dessa forma dividido, o outro segue seu caminho, leve. O bom ouvinte precisa aprender a também se descartar do peso dos problemas alheios, para não sobrecarregar demais a sua carga e continuar em condições de ouvir. Porque só com muita sorte ele encontrará alguém disposto a ouvi-lo. Bons ouvintes andam escassos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marta!

Bons ouvintes estão sim, escassos. Mas parodiando Vinícius de Moraes, "tenho um blog".

Lembra?

Mas não tem nada não
Tenho um violão...

Abs

Sérgio

Anônimo disse...

Que lindo texto Marta!!!
Como é bom ouvir uma pessoa amiga quando estamos em situações difíceis!!!

Grande abraço

Camila Gonçalves dos Santos