Esses problemas que nos roubam noites de sono, os mesmos que infernizam os dias, podem estar apenas mal equacionados _ já parou pra pensar? Por isso, para as outras pessoas, os nossos problemas não parecem tão sérios. Distanciados, têm maior facilidade para encontrar as saídas que o nosso envolvimento nos impede de ver.
Daí a importância de um ouvido amigo. Mas não é em qualquer um que podemos depositar confiança, como também não é fácil encontrar ouvidos atentos.
Antigamente, era costume _ principalmente por parte das mulheres _ o aconselhamento com os sacerdotes. Além do apoio espiritual, havia a garantia proporcionada pelo segredo de confissão, obtida no confessionário das igrejas. Com a maior compreensão do trabalho dos psiquiatras e psicólogos, também esses passaram a ser procurados, cada vez com maior freqüência e confiança, inclusive pelo compromisso ético de guardarem segredo sobre as confidências ouvidas.
Muitas vezes, uma simples meia hora de conversa com alguém da nossa confiança ajuda a elaborar o que nos atormenta. Alguém que nos deixe falar sem interrupções, sem sermões, de forma a deixar as soluções surgirem antes mesmo que a frase chegue ao final. Quase sempre, o que nos atrapalha na busca das medidas adequadas a cada caso são justamente as emoções, embaralhando fatos reais e suposições. Quando conseguimos organizar os pensamentos e concatená-los em frases, de forma a nos fazermos entender pelo outro, de repente o panorama fica claro, não só para o interlocutor, também para nós.
Esse é o papel dos amigos, muitas vezes: ouvir. Apenas ouvir. Conforme fazemos curvas, nos perdemos em desvios e derrapamos nas desculpas que fornecemos a nós ou aos outros, passamos a enxergar as setas iluminadas apontando o rumo certo.
O bom ouvinte não interrompe; demonstra interesse no olhar atento, nas aquiescências discretas, no leve movimento da cabeça, em uma ou outra pergunta, para melhor conduzir o fio da história. O bom ouvinte não corta o assunto do outro pela metade, porque lembrou de um fato parecido que lhe ocorreu ou porque tal assunto até parece aquela piada...que ele começa a contar, acabando de interromper. Ouvir é uma arte.
O bom ouvinte não se atém só às palavras. Ouve com os ouvidos, com os olhos e com os sentimentos.
Aliviado do peso dos seus problemas, pelo fato de tê-los externado e dessa forma dividido, o outro segue seu caminho, leve. O bom ouvinte precisa aprender a também se descartar do peso dos problemas alheios, para não sobrecarregar demais a sua carga e continuar em condições de ouvir. Porque só com muita sorte ele encontrará alguém disposto a ouvi-lo. Bons ouvintes andam escassos.
2 comentários:
Marta!
Bons ouvintes estão sim, escassos. Mas parodiando Vinícius de Moraes, "tenho um blog".
Lembra?
Mas não tem nada não
Tenho um violão...
Abs
Sérgio
Que lindo texto Marta!!!
Como é bom ouvir uma pessoa amiga quando estamos em situações difíceis!!!
Grande abraço
Camila Gonçalves dos Santos
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