Falar tudo o que se pensa pode ser perigoso, embora dificilmente alguém escape de alguma indiscrição, principalmente quando está sob pressão e a observação imprópria flui, quase sem perceber. Ou, ao contrário, quando o sujeito está desprevenido, de bem com a vida, acreditando-se em companhia confiável, razão pela qual se permite externar a opinião que pode ocasionar a sua ruína.
A pátina do tempo dá um colorido especial ao que passou. Contar safadezas há muito passadas, lembrar amores sepultados no passado pode proporcionar boas risadas, pela periculosidade perdida. Só é preciso observar o período necessário ao vencimento; precipitações podem desencadear sentimentos adormecidos de raiva ou ciúme, daí o cuidado exigido.
Conhecedor dessas peculiaridades do comportamento humano, Medeiros e Albuquerque, jornalista, escritor, político e professor pernambucano (1867-1934), desejando deixar para a posteridade o conhecimento de fatos guardados a sete chaves, teve o cuidado de concentrá-los num livro, entregue ao amigo editor, com o pedido de publicação 10 anos após a sua morte, com o título Quando eu era vivo...
Dessa forma, tranqüilo quanto às represálias que as suas opiniões pudessem desencadear, pôde escrever com toda a franqueza, inclusive sobre o que pensava dos seus pares e de suas obras. Custo a crer que, sendo o homem de opinião forte que era, houvesse conseguido conter a língua, em todas as ocasiões em que desejou se manifestar, mas pode-se concluir que ele a segurou bastante, em consideração aos de seu tempo. Guardou-se para o futuro.
Se o ex-ministro Nelson Jobim houvesse tido tal sapiência, estaria ainda confortável na sua cadeira, no Ministério da Defesa. Mas a observação, totalmente desnecessária, sobre o fato de ter votado em José Serra e não em Dilma, nas eleições presidenciais, faz pensar se ele já não estaria mesmo a fim de “virar a mesa”. Convidado pela presidente eleita para o cargo de Ministro da Defesa, sendo o voto secreto, a franqueza, além de desnecessária, não poderia cair bem. É aquilo que se aprende em criança (e seguidamente a gente esquece): em boca fechada, não entra mosca.
Além do mais, nesse tempo do “politicamente correto”, é preciso cuidado ao externar opiniões, para não melindrar alguém. Pois não é que ter se referido a uma ministra como “fraquinha” e de outra política falar que “mal conhece Brasília”, foi o suficiente para acirrar os ânimos de uma senadora e de uma deputada federal, que, em nota oficial, declararam que “os ataques”, ocorridos no quinto ano da Lei Maria da Penha, poderiam ser “caracterizados como violência psicológica e moral”? Com tantas leis implantadas, defendendo direitos de uns e outros, todo cuidado é pouco. Agora, o que anteriormente seria classificado como “bola fora” ou “inconveniência” pode ser enquadrado como crime, sujeito à punição.
Mas, pelo visto, até na política, onde o “jogo de cintura” se torna essencial, de vez em quando alguém se sente sufocado. Essa a razão, quem sabe, de também o ex-ministro, em solenidade de homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ter dito “ser preciso tolerar a convivência com idiotas que escrevem para o esquecimento” (ZERO HORA, 6 de agosto), referindo-se à polêmica frase “Esqueçam o que escrevi”, que alguns dizem ser verdadeira, outros não.
De fato, o ministro estava precisando de descanso. Por via das dúvidas, é bom pensar bastante, antes de dizer qualquer coisa. Antes de escrever, ainda mais.
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