29 de jan. de 2013

Sem consolo ou justificativa

Uma tragédia sem precedentes se abateu sobre a cidade de Santa Maria. Até o momento em que tento escrever esta crônica, são 231 os mortos contabilizados e mais de uma centena de jovens lutam pela sobrevivência, nos hospitais de Porto Alegre e de outros municípios gaúchos. O melhor da nossa juventude, jovens universitários, cheios de planos e ideais, grande parte recém ingressando na universidade, após anos de esforço e comprometimento. Não há consolo nem justificativa para as famílias que choram seus filhos, netos, irmãos, amigos. Só a dor de não entender.

Essa é a crônica que jamais desejaria escrever, mas, como colaboradora do jornal A RAZÃO, de Santa Maria, sinto a obrigação de acrescentar este grão de solidariedade à montanha que se acumula, sob as mais diversas formas, direcionada à cidade universitária, acostumada a festejar os feitos de seus filhos, despreparada para enfrentar tragédia de tão enorme dimensão.

Aos pais, mães e todos que perderam seus bens mais valiosos, não adiantam explicações e justificativas; nada é capaz de serenar a dor que se faz mais forte, conforme aumenta a saudade e a certeza do nunca mais.

É comum, após cada tragédia, surgirem explicações e os pontos frágeis de cada situação serem apontados, mas, na euforia de organizar, criar eventos ou programações, os riscos tendem a ser minimizados, principalmente quando os eventos são repetitivos e sempre bem sucedidos. Ninguém, em seu juízo perfeito, escolheria causar uma tragédia _ ainda que pudesse ocasionar a destruição de uma única vida, todas tão valiosas _ só que a repetição de eventos bem sucedidos pode provocar o relaxamento com a segurança, porque ela parece garantida, já que tudo sempre funcionou a contento.

Seja essa a lição que sobre, na tragédia do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria: riscos existem, sempre, daí a segurança nunca deixar de ser prioridade; medidas de precaução, como não ultrapassar a capacidade de cada ambiente ou meio de transporte, devem ser observadas pelos responsáveis, incansavelmente; organizações de controle, como Corpo de Bombeiros e outras, precisam exigir os alvarás em dia, com menos detalhes burocráticos e maior importância ao que é realmente importante.

Alguns cuidados podem ser tomados, para diminuir os riscos _ aqueles cuidados observados pelos mais velhos e muitas vezes ridicularizados _ como não levar crianças a locais com grandes aglomerações; localizar as saídas de incêndio, ao se instalar em lugares públicos; observar a confiabilidade e manutenção dos estabelecimentos frequentados, em vez de simplesmente preferir os de menor preço.

Mas nada disso, ainda que levado às últimas consequências, torna nula a possibilidade de uma tragédia. Um pequeno erro humano, um minuto de desatenção, a falha mínima em algum mecanismo de controle, uma última acelerada para testar a potencia da máquina, qualquer coisa fora do lugar e da hora pode ocasionar a tragédia. Principalmente quando, sem que se entenda o porquê, aquele era o momento predestinado para alguém.

Pela certeza de que somente o tempo pode apaziguar a dor e transformar a saudade, junto o meu abraço ao de todos, brasileiros e estrangeiros, que acreditam na solidariedade como único conforto a oferecer, quando a dor e a inconformidade superam a nossa compreensão.


3 comentários:

Geni Tavares Camargo disse...

Crônica maravilhosa, triste, muito triste acontecimento

Angélica Souza da Luz disse...

Sem consolo mesmo, Marta...Só orações... Beijos

Ruthe disse...

Não lembro de ter sentido,há muito tempo, tamanha tristeza. Tenho orado muito pedindo consolo para os familiares.Espero ser atendida.
Tuas palavras são perfeitas.
Beijos