24 de out. de 2003

Em boa companhia

Em revista conceituada, leio um texto da Maitê Proença _ extremamente bem escrito _ pedindo “um colo de mãe bem farto e macio” e questionando sobre onde estão as mães de verdade, “com cara de mãe e tempo para os filhos”. Depois, ela pede pão com manteiga da fazenda da sua infância e outras coisas simples, deixadas para trás; critica a escravidão aos padrões ditados pela moda e enfatiza a necessidade de cada um procurar o seu estilo, saber quem é.

A surpresa, confesso, foi a autenticidade demonstrada pela bonita atriz. Muito bom ela ter exposto o seu ponto de vista, criticando sem acrimônia a sociedade atual, cheia de rótulos e chavões, mas carente de demonstrações de sentimentos genuínos.

No jornal, li sobre a palestra que o novo imortal da Academia Brasileira de Letras, o escritor Moacyr Scliar, fez aos colegas médicos, exortando-os a olharem o paciente com humanidade. Quando muitos, esquecendo o seu juramento, abusam da tal paciência, imaginando-se num nível superior, considero excelente o fato de uma personalidade de sucesso ajudá-los a descer do falso pedestal.

No mesmo matutino, vejo o artigo de Firmino Biazus, diretor do Colégio Marista Rosário, criticando a permissiva educação atual, clamando por limites e valorizando a família tradicional.

Quando essas vozes fortes ousam se erguer, indicando os erros no curso e apontando uma mudança de rumo, sinto que é hora de nos unirmos, todos os descontentes, os omissos, os passados para trás por não gritarmos o nosso descontentamento. Não estamos sós, nem somos loucos ou retrógrados_ é a boa notícia. Fomos ensinados a oferecer a outra face, falar baixo, não armar encrencas, não revidar, não inventar problemas; com a nossa omissão, porém, parece que a situação piorou. Consentimos tanto, que os outros julgaram ser a maioria; agora, começo a me questionar se não houve engano. Talvez tenhamos confundido educação com acomodação e, revertendo a jogada, descubramos ser uma multidão.

De qualquer forma, os que estavam tomando conta do barco deixaram a água entrar. Quem sabe cada um de nós _ os pontuais nos pagamentos e nos horários, os bons patrões e os bons funcionários, os que apreciam programas interessantes na TV, os que abominam a violência como meio de atingir os fins, os que impõem limites aos filhos e aos alunos, os que ainda preservam determinados valores _ ou quem sabe todos saímos do nosso comodismo e começamos a assumir as nossas posições? Sem medo de sermos chamados de retrógrados, chatos ou imbecis. Afinal, como exposto no início dessa história, estamos em boa companhia.

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