1 de jul. de 2006

Pensou?

“Pensei que a turma ia entrar na briga, depois que comecei”, falou o jovem, tratando dos ferimentos. “Pensei que todos iam colaborar nos preparativos da festa”, queixou-se a avó, enchendo sozinha os balões para o aniversário da neta. “Pensei que a diretoria ia ajudar na execução do projeto”, criticou o presidente, fazendo serão sozinho.

“Pensei”pode ser muito perigoso, quando a palavra extrapola e se transforma em queixa. Pensou por que? Com que direito? Resolveu tudo sozinho, da maneira que quis, e depois se ressente da falta de apoio?

“Agora, vire-se sozinho”, é o que nos desejam dizer, quando tomamos atitudes arbitrárias, como donos da situação, sem descobrir outros interesses, consultar outras vontades.

Quem deseja apoio, precisa combinar, participar, ouvir, debater, aceitar opiniões e fazer concessões, antes de tomar qualquer atitude. Quem não tem paciência para encarar as etapas do processo, pula fases, desconhece outros julgamentos, tem o que merece, ao final. Sem direito a reclamar.

Há exércitos de um homem só, chefes solitários,assoberbados de atividades, incapazes de motivar os companheiros de jornada. Pessoas que só conseguem retorno através de remuneração vantajosa, muitas vezes boicotados em seu próprio terreno, por despertarem a má-vontade dos subordinados, com sua atitude déspota e autoritária. Pessoas que não conseguem delegar, dividir tarefas, incapazes de atribuir parte do sucesso a outrem. Homens e mulheres convictos de que só eles sabem como fazer as coisas.

Há líderes com seguidores entusiastas, dispostos a se esfalfarem para ver o triunfo de cada idéia. Líderes que aceitam as sugestões dos companheiros, motivam, dividem as honras, agradecem e valorizam a ajuda recebida. Líderes que não se colocam em primeiro plano na foto.

Nas diversas áreas da vida pessoal e profissional, encontramos os dois tipos de liderança. Também nos sobra a escolha de qual desejamos ser.

Criticamos a omissão à nossa volta, quando nos encontramos cheios de trabalho, sem ter a quem apelar. Parecia tão boa a idéia, pensamos que teríamos um apoio enorme e nos deixaram sozinhos. Agora todos têm algum compromisso inadiável; em vez da cooperação desejada,ouvimos evasivas ou desculpas esfarrapadas. Dá peninha de nós mesmos, essa sensação de desamparo.”As pessoas são muito egoístas, não se pode contar com ninguém”, é a conclusão.

Ei! Pára lá! Fui eu que inventei? Tomei a frente, achei que era mais eu, comigo ninguém podia? Agora é comigo mesma. Tenho que me virar sozinha, fazer o melhor que puder, desistir se não conseguir. Só não tenho o direito de criticar ninguém.
Para a próxima vez, pedirei opiniões, conseguirei adeptos,serei flexível. Combinarei, para ter o direito de cobrar a participação. Acima de tudo, exercerei a humildade, parte importante de qualquer processo de liderança.E, se algum êxito obtiver, dividirei as glórias e falarei, em alto e bom som, os nomes de todos os que contribuíram para o sucesso, pois sem eles ainda estaria repetindo tudo o que “pensei”, sem ter conseguido realizar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!
Que ótimo! É mais que uma crônica, é quase um tratado sobre condutas.

Abs

Sérgio