9 de jul. de 2006

E agora?

Em tempo que a memória não deixa esquecer, fui professora de jardim da infância, como então era chamada a atual escola de educação infantil. Também lecionei na primeira série e fiquei tão ou mais encantada que os alunos, quando eles realmente aprenderam a ler.

Recebia rosas colhidas no jardim de casa, florzinhas murchas roubadas por cima dos muros baixos, desenhos coloridos, bolachinhas Mirabel, barrinhas de Diamante Negro, pizza e bolos caseiros. Ah, também abraços apertados e beijos babados, aos montões.

Naquele tempo, as crianças amavam as professoras. Os jovens, embora avessos a sentimentalismos, também respeitavam os mestres e, quando não se comportavam à altura, sofriam as devidas sanções, com o consentimento e aplauso dos pais.

Já nas primeiras séries dos meus filhos na escola, notei que algo havia mudado. Alunos atiravam cadeiras e classes pelas janelas do segundo andar, e isso considerado graça. No pátio da escola pública, pedras cruzavam o espaço e, quando fui reclamar, ouvi que nada podia ser feito, eram novas regras, os pais iriam queixar-se ao Secretário de Educação, caso seus filhos fossem suspensos por mau comportamento; nessa contingência, os diretores das escolas e os professores é que seriam chamados a se explicar. Mais tarde, todos fingiram não ver, quando as drogas começaram a disputar com as paqueras o horário do recreio.

Naquele momento histórico, há cerca de trinta anos, começava o processo de deterioração da educação, cujas conseqüências não fomos capazes de avaliar. Psicólogos, sociólogos, educadores e outros estudiosos poderão explicar as causas. Como simples observadora do processo, parece-me que a nossa omissão foi a grande culpada: deixamos acontecer.

Hoje, o caos se instalou. As escolas gaúchas vivem em clima de terror. Em Pelotas, uma professora perdeu a visão no olho direito,ao ser atingida por uma cadeira, quando tentava apartar a briga de dois alunos da segunda série do Fundamental. Em Porto Alegre, a monitora de uma escola infantil ficou com hematomas, após ser agredida por um menino de seis anos com socos e chutes. Outra professora, ferida pelo arremesso de uma pedra, sofre ameaças de morte por parte de um aluno de 11 anos, por ter apresentado queixa na polícia.

Esse tipo de comportamento começa em casa, na agressividade com que as crianças e os jovens são levados a se familiarizar, através da violência doméstica, da falta de respeito entre o casal; sedimenta-se no passar a mão por cima dos pais e mães que não conseguem colocar limites; firma-se na observação do cenário nacional, na corrupção generalizada, nas agressões entre vereadores, deputados estaduais e federais, presenciadas nos canais da TV. Passa a ser normal, quando o Congresso é invadido por um bando de desordeiros e os governantes esboçam quase nula reação.

Como macaquinhos espertos, as crianças e os jovens repetem o comportamento dos adultos, desrespeitam a hierarquia, bagunçam pra chamar a atenção. Com socos, pontapés nas canelas e palavrões, lançam o seu pedido de socorro, exigindo que professores e pais voltem a ser educadores.

3 comentários:

Anônimo disse...

Marta!

E os candidatos, assistem a tudo, ajeitando o meião.

Abs

Sergio

Anônimo disse...

Marta!

Infelizmente é a nossa mais pura e dolorosa realidade.As pessoas são o resultado do meio e como este meio extrapolou seus limites, o resultado é o que estamos assistindo.Como vida é um ciclo, quem sabe, voltaremos , um dia,aos bons costumes, ao respeito e à dignidade!

Ruthe

Anônimo disse...

Meu bem,eu sou de um tempo em que as professoras se chamavam Hermelinda!A gente levantava quando elas(es)entravam na classe e ate rezava.Eu era uma aluna feliz e sabia! Hoje me preocupo muito e proponho que alguem tenha uma ideia. Prometo ajudar.