14 de out. de 2006

O que será de nós?

Pela internet, alguém enviou o discurso proferido pelo senador Jefferson Peres, no dia 30 de agosto de 2006, no Congresso Nacional. Foi a primeira vez em que o ouvi na íntegra, embora alguns trechos já tivesse ouvido ou lido.

É a comprovação de que não estamos loucos, imaginando uma situação caótica que não existe, sofrendo sem razão por coisas que estão funcionando muito bem, obrigada. Como a saúde no Brasil, que está ótima, você sabia? O Presidente Lula falou e ele, embora nada saiba sobre outras coisas, sobre esse assunto foi categórico: a saúde está ótima. Foi tão convincente, que eu teria até acreditado, se de vez em quando não tivesse algum funcionário pedindo socorro, largado em uma maca, no corredor de um hospital qualquer. Pena que o Presidente não aparece, numa hora dessas, para agilizar o atendimento ou levar um travesseiro, um cobertor, já que o atendimento é precário mesmo.

Mas não é só a saúde, é também a educação, a segurança pública, o Brasil cada vez mais encolhidinho, no final da fila em todas as questões importantes. Só cresce em corrupção e roubalheira, mas agora é normal, todo mundo rouba, falam os fazedores de cabeças, compositores e artistas inclusive. Alguns até se solidarizaram com o Presidente, quando a roubalheira foi escancarada; disseram que “política é assim mesmo”, “fazer política é meter a mão na m...” Com esse conceito tão generalizado e bem aceito, não sei como ainda tem gente pagando as contas. Afinal, o exemplo vem de cima.

Estamos assistindo à derrocada dos princípios que recebemos na infância. Fomos ensinados a nos comportar direitinho, para merecer um prêmio, ao final. Agora, políticos roubam milhões, com direito a fartos elogios na saída desonrosa.
Por tudo isso, está difícil de entender o nosso mundo. “Ou seremos nós os errados e loucos”?_ a gente já se pergunta, desconfiada. Então, lá do Amazonas, vem o senador Jefferson Peres e fala o que precisávamos ouvir.

Mais que as riquezas inexploradas do Brasil, diz ele, dói a “dilapidação do capital ético brasileiro”, com a complacência das elites, dos intelectuais e dos artistas. Traduzindo: dói a sem-vergonhice assumida. Na continuação, ele se refere à mediocridade e ao baixo nível intelectual e moral do “Congresso de faz-de-conta” ao qual pertence, o pior que já viu, segundo suas corajosas palavras. Com raras e honrosas exceções.

No término do discurso, a voz conserva o tom desesperançado, ao constatar que a crise ética não é só política, pois o povo brasileiro assina embaixo de todas as falcatruas, quando conduz o presidente Lula para a reeleição, mesmo reconhecida a sua conivência com os piores escândalos nacionais.

Aí nos lembramos de tantos políticos corruptos que mereceram o prêmio da reeleição e entendemos quando anuncia que irá até o final do seu mandato, mas não será candidato novamente. “Com esse Congresso, com esses políticos, com esse povo”, compreendeu que não vale a pena. Desiste da vida pública, vai tratar da sua.

Por mais quatro anos, a voz do senador Jefferson Peres ainda se fará ouvir, no Congresso Nacional. Esperamos que a sua lição de destemor encontre muitos adeptos e entre esses se encontrem os eleitos pelos nossos votos, para que o eco estrondoso desperte o Brasil de norte a sul.

Por que, se não for assim, o que será de nós?

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