Escrevo esta crônica antes do segundo turno das eleições presidenciais e governamentais. Ainda que, em alguns lugares, ela seja lida mais tarde, não fará diferença, pois justamente se refere ao “depois”.
Seja qual for o resultado das eleições, um novo tempo começará. Quem sabe é também a oportunidade para nos empenharmos na construção do Brasil com que sonhamos?
Independente de partidos políticos _ pois gente boa há em todos, tanto como salafrários e aproveitadores _ e das diferentes ideologias, milhões de nós estamos descontentes e entristecidos com a situação atual. Ainda que continuemos votando, deixamos de crer num salvador da pátria. Perdemos a esperança, na verdade.
Mas talvez isso não seja tão ruim como hoje nos parece. Quem sabe significa que a nossa democracia começa a deixar a adolescência e caminha para a maturidade, quando a gente pára de idealizar e aprende a fazer o possível com o que tem à mão? Quando deixa de culpar os outros por tudo de trágico que nos acontece e resolve fazer a nossa parte?
Nesse momento da vida nacional, parece que estamos no fundo do poço, esperando que alguém nos atire a corda salvadora. De repente, compreendemos que não virá socorro de lado algum, o jeito é nós mesmos trançarmos a corda e começarmos a escalada, um passo de cada vez, como der.
Por isso, a proposta para um novo Brasil começa em casa, no entendimento com a mulher, o marido, os filhos, os pais, os avós, para que direitos, deveres e limites sejam compreendidos e aceitos. A certeza de que a honestidade compensa e de que regras são boas, porque azeitam os relacionamentos, inicia na família. O filho que ouve a conversa do pai sobre ter lesado o sócio ou o cliente, com certeza aprende a lição e irá repeti-la. A filha que observa a mãe, calada e impotente, sofrer humilhações por parte do marido, também sofrerá as conseqüências desses fatos. Lutar para proporcionar boas experiências, formadoras de mentes saudáveis, é responsabilidade da família, célula onde começa a construção do país.
Depois, o processo continua no local de trabalho. Primeiro, com os empregados domésticos; logo, nos escritórios, nas fábricas, nos campos. Se todos tiverem os seus direitos resguardados, entenderão como justas as exigências de melhor desempenho e produtividade.
Assim fortalecida a cidadania, logo alguns se sentirão aptos a ocupar postos de liderança, outros serão os soldados deste exército de homens e mulheres responsáveis, participativos, reivindicadores, cônscios da sua capacidade de virar a mesa e recomeçar do jeito desejado.
Unidos, seremos fortes para exigir melhores escolas, que por sua vez exigirão melhor desempenho dos seus professores, esses melhor remunerados; teremos voz para cobrar dignidade na saúde e eficiente segurança pública; teremos poder para exigir o cumprimento das belas promessas feitas pelos governantes na campanha.
Mas o mais importante será a troca da posição de vítimas pela posição altaneira de construtores da nossa democracia e do Brasil que desejamos, onde honestidade, participação e trabalho sejam qualidades obrigatórias.
Na verdade, a gente bagunçou demais. Agora o jeito é começar pelo começo.
2 comentários:
Marta concordo totamente contigo,vamos seguir lutando.
Ivone
Marta!
A mudança deve começar por casa, pelo lar. Existe uma enorme distorção de valores, por causa das novas idéias de prêmio e castigo. Mudanças já, digo!!!
Beijos
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