27 de dez. de 2006

Um pouco da Ásia - parte VIII - Cingapura


Na manhã seguinte, acompanhados da guia Jaen, realizamos um city-tour, iniciado pelo Jardim Botânico. Este tem a extensão de 52 hectares, sendo cinco de selva preservada. Anteriormente, aqui existiu o palácio da família real, destruído por um incêndio.

Faz muito calor, a temperatura é cerca de trinta e um graus centígrados, às primeiras horas da manhã. Por esse motivo, o Botânico abre às cinco horas, para as pessoas fazerem a sua caminhada no horário mais fresco. Nós, mulheres, fomos alertadas para não vestir roupas decotadas, inclusive porque também visitaremos um templo.

O passeio inicia pelo Jardim das Orquídeas, um paraíso de beleza e cores, com um pavilhão com ar condicionado para as plantas. Cingapura exporta orquídeas em profusão. Nos canteiros, foi colocado carvão, para proteger dos insetos; tudo é muito limpo e bem cuidado. Inúmeras plantas exóticas atraem a nossa atenção.

Em frente ao Jardim Botânico, ficam as embaixadas: Japão, Estados Unidos, França.

Enquanto o ônibus se locomove, Jaen nos transmite alguns conhecimentos sobre o país.

A arquitetura á arrojada e inovadora, com edifícios considerados “inteligentes”.
Na zona financeira, estão os prédios mais altos e imponentes. Os bancos chineses têm formatos diferenciados; o edifício do OCBC Bank representa uma calculadora eletrônica. O Hotel Marriot, na principal avenida, Orchard Road, tem forma de pagode chinês; o Swissôtel the Stamford é o hotel mais alto.

A preservação dos prédios antigos é obrigatória, proibida a mudança de fachada. Há uma mescla de arrojado e conservador, alto índice de civilidade, respeito pelas diferenças e boa convivência entre elas.

Passado o choque inicial com os caracteres chineses e as mulheres islâmicas, essas com véus que não cobrem o rosto, a dirigirem os últimos modelos de caminhonetes e automóveis, o turista se sente bem em Cingapura como em qualquer cidade ocidental.

As vitrines exibem grifes internacionais, os eletrônicos são mais atualizados que em Miami ou Nova York. Também desperta a atenção as jovens com roupas típicas chinesas, vestidos amarelos com bordados na mesma cor, sombrinhas para proteger do sol forte, caminhando em passos pequenos e rápidos.

É bom andar a pé no centro, sem ouvir buzinas, nem encontrar uma ponta de cigarro no chão. Ou atravessar com tranqüilidade na faixa de segurança, onde os semáforos têm um sinal luminoso que avisa quantos segundos faltam para ficar vermelho.

Pela Orchard Road, caminha-se sem preocupação com trombadinhas ou pedintes. Aqui estão os mais fantásticos shopping centers do planeta: Takashimaya, o maior da Ásia, em vidro e mármore, com um andar inteiro dedicado às grifes de bolsas, modelos exclusivos que não chegam ao Brasil, como muitos da Gucci; também Ngee AnnCity, Scotts, Wisma Atria. Ou os magazines japoneses: Yaohan, Sogo e Isetan.

A maioria das lojas abre todos os dias, inclusive aos domingos, das dez às vinte e uma horas;durante as estações festivas, o horário pode se estender até as vinte três horas.


Na New Budge Road, a iluminação da rua é feita por globos de luz rosados, no tamanho de uma bola de futebol.

Na Singapore Gems & Metals, na 7 Kung Chond Road, a entrada é pela fábrica, onde se pode ver os artesãos esculpindo e montando as jóias. Como a orquídea é obsessão nacional, lindos broches de dezoito quilates ostentam a flor.

Sedas, vasos de cerâmica e antiguidades são as compras sugeridas, nos folhetos de propaganda. Mas as lojas expõem todo tipo de artigos, as últimas coleções de moda, em forte apelo ao consumo.

O sistema de metrô é muito simples, com uma estação em cada esquina. Os táxis têm tarifas baratas e os motoristas são honestos; os passageiros podem embarcar somente nos pontos convencionais.

É possível contornar toda a ilha de automóvel em duas ou três horas. A área da ilha principal é pequena, total de cinqüenta ilhotas, em seiscentos e trinta e três quilômetros quadrados, fora o que foi aterrado.

Nas ruas, a população é ordeira, mas os jovens não parecem reprimidos. Caminham em grupos ou aos pares, em conversa animada e alegre, todos com aspecto estilizado, os rapazes com os cabelos espetados em penteados inovadores, tingidos de loiro ou cobre.

A maioria dos cartazes de propaganda mostra modelos ocidentais, mulheres loiras de preferência. Poucos retratam as mulheres asiáticas, embora algumas sejam lindas.

Há três universidades em Cingapura, duas do estado e uma particular.

Preocupado com a família,o governo proporciona facilidades para o casamento. Aos dezoito anos, os homens ingressam no serviço militar, onde permanecem por dois anos; só depois é que entram na universidade, ficando com diferença de dois anos entre a sua idade e a das colegas, a fim de se interessarem um pelo outro e casarem _ informa Jaen. A despeito do interesse governamental, os jovens de ambos os sexos já não desejam casar tão cedo; preferem viajar e conseguir boa situação financeira antes.

Quase todos têm o seu próprio apartamento _ apesar de os estrangeiros não poderem comprar, só alugar. A corrupção é zero, o nível de desemprego é irrelevante, quatro a cinco por cento _ antes da crise asiática, segundo Jaen, era dois por cento _ e a renda per capita, superior a 24.000 dólares cingapurianos, permite nível de vida superior à França, Inglaterra e Japão. Há pobres, não mendigos.

São garantidos aos cidadãos cingapurianos moradia decente, cuidados médicos, alto padrão de educação e aposentadoria, distinguindo-os dos seus vizinhos asiáticos. Não há programas de desemprego, pelo fato de não haver desempregados. Ao contrário, é necessário importar trabalhadores das cidades vizinhas, principalmente para executar os trabalhos mais simples, que os locais não desejam realizar.

Aqui é aplicada a Lei da Chibata, obrigatória para tentativas de homicídio, roubo, estupro, tráfico de drogas e vandalismo. São cerca de seis golpes, com vara de bambu de um e meio metro de comprimento, aplicados nas nádegas nuas, em geral por um mestre das artes marciais. As chibatadas rompem a pele e as cicatrizes permanecem.

Como a pequena ilha não tem para onde crescer, medidas estão sendo tomadas para contornar a situação,como a execução de um aterro e a extraordinária solução de construir um edifício novo sobre o já existente.

Enquanto a guia turística faz a sua explanação, o ônibus circula por uma cidade atraente e cosmopolita, exceto pelos letreiros em chinês.As vitrines expõem nomes como Armani, Bulgari, Louis Vitton e os maiores expoentes da moda, repetidas vezes.

As margens do rio Singapure, esse com o formato de uma barriga, são contornadas pelas palmeiras do Viajante ou de Madagascar. O passeio de barco, realizado em quarenta e cinco minutos, proporciona conhecer um pouco da rica história da cidade que, sendo milagre econômico e de organização, pretende se tornar a primeira da Ásia em comércio, turismo e finanças.

No ano de 2001, Cingapura foi visitada por sete milhões e meio de turistas, setenta por cento desses de outras partes da Ásia.

Todas essas raras características fazem com que algumas pessoas considerem Cingapura como o McDonald’s do Sul da Ásia: eficiente, segura e sem sabor.

Contudo, ainda que os cingapurianos tenham sofrido algumas perdas, nesses 200 anos de transformação da pequena ilha em uma nação industrializada, são óbvios os benefícios alcançados em prosperidade, paz e segurança.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!
Consegui uma alegria, há muito não sentida, ao ler o tipo de vida que alguns povos ainda cultivam.
Para mim, tudo depende de "educação' e "respeito"!
Tua crônica foi um belo presente de Novo Ano!

Beijos