Não é uma, nem duas; são diversas pessoas, das mais diferentes faixas de idade e condição social, todas com a mesma queixa: Pelotas é muito fechada.
Queixam-se os “estrangeiros” da má acolhida proporcionada pelo povo pelotense. A jovem, profissional bem sucedida, conta que foi ao comércio, na esperança e na pressa para comprar um vestido de festa; voltou para casa com o dinheiro dentro da bolsa e sem o vestido: ninguém lhe deu atenção, nas lojas onde entrou. “Talvez porque estivesse de abrigo e tênis”- justifica.
O homem, também ele profissional bem-sucedido, contou que, mal veio morar nesta terra, desejando se relacionar, adquiriu o título de um clube social e foi com a esposa à primeira festa. Vindo de cidade menor, onde era muito bem-quisto, imaginou que alguém da diretoria do clube – quem sabe o presidente ou o diretor social – viria lhes dar as boas-vindas. Imaginou apenas, porque foi simplesmente ignorado, a “sociabilidade” restrita ao nome do clube.
Uma a uma as histórias se sucedem, num rosário de queixas e tristes comprovações. A convivência é restrita aos locais de trabalho; ninguém convida para a sua casa – é a mágoa generalizada.
Para os jovens, que freqüentam escolas e universidades, é menos difícil o entrosamento; sofrem mais os adultos, sejam homens e mulheres solteiros ou casais. Contudo, muitos jovens também se fecham em grupos restritos, sem facilitar para o que chega, desejando se relacionar, sem conhecer ninguém. Provincianismo que, na juventude, é mais fácil de desculpar.
Está na hora de a Princesa fazer o seu exame de consciência e cair na real.
Se as famílias, pelo tradicional resguardo, têm dificuldade em abrir as portas das suas casas, o comércio e os clubes sociais, pelo menos, precisam ser hospitaleiros. É inconcebível que a antipatia chegue ao ponto de prejudicar os negócios, pois é o que acontece, quando o comprador desiste da compra, por mal atendido.
Qualquer pessoa, pobre, rica, mal-vestida, bem-vestida, tem o direito de ser atendida com educação. Inclusive, ainda que apenas pelo interesse comercial, é sinal de pouca inteligência julgar alguém pela aparência. Há pessoas que não fazem a menor questão de aparentar a condição financeira que possuem: pouco estão ligando para a opinião dos outros. Por isso o homem comprou à vista, em Porto Alegre, o automóvel que o vendedor da concessionária nem se dignou a lhe mostrar, em Pelotas. Também pela mesma razão outro foi ignorado, em várias concessionárias, porque não chegou motorizado à porta. Atendimento diferenciado recebeu _ para sua diversão _ quando tomou medida inversa.
E tem o caso daquele que, cansado de esperar, em frente ao atendente que falava ao telefone com outro cliente, resolveu pegar o celular e telefonar para a própria repartição pública onde estava, dessa forma conseguindo ser atendido.
Considerada cidade culta e educada, Pelotas até se deu ares de princesa. Com o tempo, foram-se as pompas, sobrou a pose. É hora de nós, seus filhos, aceitarmos o “puxão de orelhas” recebido daqueles que, escolhendo visitar ou morar em nossa cidade, não a podem considerar sua, por não terem sido recebidos com a hospitalidade e a gentileza merecidas.
4 comentários:
Legal isso, de fazer uma análise da própria cidade.Qualquer hora, faço da minha.
Parabéns você falou tudo. Pelotas e região vive muito de pose e pompa. Temos que cair na real e rever nossos conceitos (se é, que queremos de fato).
Concordo em gênero, número e grau. Sou de Rio Grande, e quando vim morar em Pelotas para cursar faculdade, fiz muitas amizades, mas com pessoas de outras cidades, que como eu, se sentiam excluídas. Parabéns pelo excelente artigo!
Marta!
Como é difícil falar mal de nossa cidade, mas teu comentário é por demais justo.
sei de inúmeros casos de descriminação e sinto imensa vergonha e tristeza!
Beijos da Ruthe
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