Situações incômodas, surgidas de repente, podem nos conduzir a reações inesperadas. Num rompante, nos vemos assumindo posturas que nem combinam com a nossa maneira de ser.
Pacatos, surpreendemos a nós mesmos, partindo para a briga, pra surpresa dos expectadores, que jamais nos viram enfezados desse jeito. Mais tarde, se um providencial sopro de bom senso nos invadisse, talvez chegássemos à conclusão de que a reação foi imprópria, bem maior que a necessária.
Envergonhados, em lugar de admitir o erro e dar o caso por encerrado, costumamos buscar desculpas para o comportamento inadequado. “Agi mal, sim, mas também...”- e aí desfilamos um rol de justificativas, de preferência transferindo a culpa para outros.
Quando algo irrita ao ponto de nos fazer perder a compostura, é válido entender as razões que nos levaram a tal destempero, embora, para os atingidos, quase sempre as nossas razões sejam insuficientes.
Depois que escapou a frase mal-humorada, o desaforo, o gesto grosseiro, infelizmente não dá para voltar atrás, está feito. Em certas situações, cabe uma explicação, um pedido de desculpas, dependendo do ponto até onde a raiva nos levou. Em outras, é como se trancássemos a porta e perdêssemos a chave, na saída intempestiva. O retorno não é impossível, mas leva tempo e dá trabalho.
Crianças e jovens podem ser perdoados com maior facilidade, porque estão em processo de formação; é natural que digam e façam muitas coisas de que se arrependerão dez minutos depois. Se nos ofendemos com os impropérios ditos pelas crianças e pelos adolescentes, em momentos de descontrole, é bom pesquisar a razão: em geral, o que nos irrita é o fundo de verdade contido no desaforo.
O chato de ser adulto é que, de pessoas adultas, os outros esperam maturidade, equilíbrio e bom senso, qualidades que não se encontram à venda, nas prateleiras das farmácias, para serem absorvidas em doses diárias.
A gente passa a vida tentando adquirir serenidade, se esforça para demonstrar lucidez e bom discernimento nas situações mais complexas. Pensa que atingiu certo grau de maturidade, porque até consegue dar as respostas adequadas, mas, num repente, todo o trabalho parece perdido.
Algumas situações são mais propensas a nos roubar a estabilidade. No trânsito, com facilidade as pessoas se estressam. Motoqueiros passam de raspão, velozes; na maior calma, o automóvel à frente parece ignorar o verde no semáforo, mas no último momento ele passa e o vermelho nos obriga a parar, justo quando a pressa é enorme. Também há angústia na espera nos aeroportos, nas filas dos bancos e supermercados. Quando alguém passa à frente, bancando o esperto; quando comete uma infração, uma arbitrariedade, como colocar o carro justamente em frente à nossa garagem. Principalmente as situações repetidas costumam incomodar.
Contudo, ainda que algumas situações sejam mais propensas a provocar destemperos emocionais, mais que nunca o exercício de manter a calma, “quando todos ao redor a perderam e te culpam”, se faz necessário. Porque, em todos os lugares, as pessoas estão a um passo de uma crise de nervos. Uma palavra inadequada, um gesto de protesto pode desencadear uma reação inesperada. Assim, cada um precisa aprender a manter a calma por si e pelo outro. Não para deixar as coisas como estão, aumentando o desconforto, mas para resolvê-las a contento, de forma que ninguém se sinta prejudicado ou injustiçado.
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