15 de mar. de 2009

As circunstâncias de cada um

A moça falou “vocês, do interior” e logo se arrependeu, julgando ter sido indelicada. Apressou-se a justificar, sem encontrar as palavras certas. Decerto pelo fato de, tendo nascido e sido criada na capital, não conseguir captar os encantos de outra realidade. Ou, sendo mesmo preconceituosa em relação às pessoas do interior, desejar que ninguém soubesse disso.

Contudo, fosse distração ou preconceito, não me importei. Sou mesmo do interior. De Pelotas, cidade considerada média, que me atrevo a considerar pequena, pela deliciosa facilidade de acesso a todos os locais, em pequeno espaço de tempo. E nunca entendi porque algumas pessoas se incomodam, quando confrontadas com a sua realidade. Seja a localização geográfica, a condição financeira ou a maneira de ser.
Cada um com as suas circunstâncias. Se alguém se incomoda com o que outrem fala, talvez signifique que ele mesmo não se aceita do jeito como é.

Morar em grandes centros tem vantagens, não há como negar, inclusive a maior oportunidade de trabalho. Também há maior quantidade de restaurantes e pontos de diversão, maiores livrarias e cinemas, lojas dos tipos mais variados. Sem falar nas de conveniências, capazes de despertar o lado gourmet no cozinheiro mais despretensioso. É natural, pelo maior número de consumidores e freqüentadores. Só que tudo isso tem um preço, em geral bem superior ao que muitos gostariam de pagar.

Em compensação, o interior proporciona outras oportunidades, como o convívio mais fácil, o deslocamento rápido e a possibilidade de boa qualidade de vida, sem grandes gastos.

E, para quem possui condições financeiras, há sempre a alternativa de sair por aí, quando desejar outros ares. Já nem digo para ampliar os horizontes ou conhecer outros mundos, pois hoje, com o fácil acesso à tecnologia, pessoas interessadas percorrem o mundo, sem sair de sua sala de estar.

Mas, na verdade, não estou aqui para defender a preferência pelo interior, nem para apregoar os benefícios de morar na capital. Interessa-me mais o fato de alguns se sentirem ofendidos, quando confrontados com a sua realidade.

Pessoas com posses ficam melindradas, quando ouvem “você, que é rico” ou “você, que pode”, da mesma forma ficam alguns pobres, confrontados com o fato de não possuírem algum bem, não poderem freqüentar certos lugares. Mulheres sozinhas se constrangem por entrar num restaurante em sua própria companhia. Velhos não gostam de ser considerados velhos. Sem falar em quem mente descaradamente, mas é capaz de cortar relações, se chamado de mentiroso. Ou em quem sabe roubar e o faz com frequencia, mas cora de vergonha quando é descoberto. São as circunstâncias de cada um, as verdades difíceis de enfrentar. E essas são as que, por curiosas, dão assunto.

Mas, no meu caso, sou mesmo do interior e ponto final.

2 comentários:

Ana disse...

Perfeito!!

Anônimo disse...

Sou o que sou e, por sinal, gosto muito.Já ouvi muitos comentários maldosos, mas podem não acreditar - não me tocam! Quanto às pessoas, não me importa o tipo físico, o grau de instrução,o poder aquisitivo, se do interior ou da cidade, o que realmente vale, para mim, é a conduta, o sentimento moral, ser coerente.