A amiga convidou para vistoriar o comércio de Pelotas, em fase de liquidação de inverno. Saímos as duas, aproveitando a tarde ensolarada. Como a idéia tinha partido dela, limitei-me ao papel de companhia, obedecendo ao roteiro pré-estabelecido.
Acredito que muitas pessoas prefiram realizar suas compras nos estabelecimentos conhecidos, onde são recebidas com familiaridade e suas preferências respeitadas. Com as mulheres, esse procedimento não segue regras, pois algumas se apressam a conhecer os endereços recém inaugurados; outras fazem pesquisa de preços e se mostram fiéis apenas ao seu bolso, com muito bom-senso; uma amiga aproveita a caminhada para entrar em todas as lojas de aspecto interessante, enquanto finge se exercitar (sorte minha, pois essa é a que resolve todos os dilemas de onde encontrar as mercadorias mais estranhas). No caso particular, principalmente por estar satisfeita, mas também pela escassez de tempo e preguiça, costumo me restringir aos locais habituais, onde tenho as necessidades atendidas, com presteza e até mesmo carinho. Dessa forma, não tinha conhecimento do comércio de Pelotas, em linhas mais amplas.
Mas, naquela tarde, saí disposta a aproveitar o passeio. Entramos somente em locais que nenhuma das duas conhecia e onde não éramos conhecidas, algumas boutiques novas, outras do tipo que se passa à porta, aprecia-se as mercadorias expostas na vitrine, pensa-se em conhecer, mas nunca se realiza o pensamento. Lojas de roupas femininas e de calçados, basicamente. Aquele foi o dia para conhecê-las.
Confesso que fiquei de queixo caído, não só com a variedade dos produtos oferecidos, alguns pela metade do preço original, em virtude da liquidação. Principalmente, fomos surpreendidas pelo profissionalismo e o atendimento gentil. Eu, que em outras oportunidades malhei a desatenção do atendimento, em alguns pontos do comercio local, em relação aos consumidores desconhecidos, dessa vez fiquei estarrecida, em todos os locais visitados.
Além da solicitude em apresentar os diferentes modelos, chamou a atenção o empenho em agradar: na primeira loja, havia uma térmica com biscoitinhos, sobre o balcão. Gentileza bem-vinda, em razão da hora e do frio; na segunda, cafezinho; na terceira, só aceitamos o segundo cafezinho por delicadeza; na quarta, contudo, tivemos que recusar. Mas, para não sairmos sem um agrado, nos foi oferecido um licor. Tivemos que rir: a idéia era vistoriar as liquidações, não fazer lanche grátis, como afinal foi feito.
Além do atendimento extremamente gentil, observei a qualidade e variedade dos produtos em exposição, inclusive confecções próprias ou oriundas das cidades vizinhas, com surpreendente bom gosto.
Fala-se muito no passado de Pelotas, que a cidade ficou parada no tempo. Há um retorno constante às charqueadas, aos casarões centenários, à herança dos doces portugueses, ao pastel de Santa Clara, como se nada novo tivesse valor. Enquanto isso, à nossa frente, o presente é construído, com garra e vontade de acertar. Novos pontos de compras surgem, os endereços antigos se renovam e fortalecem. Há uma cidade nova crescendo dentro da antiga, com sangue novo a pulsar. Já não é a princesa a esperar homenagens, mas a empreendedora a conquistar seu espaço. Gostei de lhe ser apresentada.
Um comentário:
Ainda não entendi o porquê de não termos um shopping em Pelotas!
Quando saio às compras, preciso ir a vários estabelecimentos comerciais, e mesmoa assim, na maioria das vezes volto para casa, frustrada, por não ter conseguido o que tinha programado comprar!
Vamos ter que começar a gritar...
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