Ainda não consegui chegar a uma conclusão sobre a epidemia de gripe que ocupa as páginas principais dos jornais. A dúvida é sobre a possibilidade de não termos compreendido o verdadeiro perigo da situação ou, ao contrário, termos embarcado na onda do alarmismo proposital. Se o pânico cultivado pela mídia tem razão de ser ou é apenas a forma de vender mais jornais? Se há interesses em jogo, gente que ganha ou perde, conforme a gripe se torne o assunto do dia, deixando outros temas e nomes no esquecimento?
A população corre para os pronto-socorros, aos primeiros sintomas de gripe, superlotando os corredores dos hospitais; crianças dividem o espaço nas macas. Com a resistência baixa, aumentam as probabilidades de pegar o vírus H1N1. Não seria melhor uma boa campanha de conscientização, orientando para que as gripes comuns fossem tratadas em casa, as pessoas evitando se expor e colocarem os outros em risco?
Em várias cidades brasileiras, para evitar a contaminação com a Gripe A, a volta às aulas foi adiada; suspenderam-se as festas programadas, inclusive as de formatura.
Tudo bem, se a situação é de extrema periculosidade. Muita gente sairá prejudicada com essas medidas, além dos principais interessados: gente que trabalha com eventos, aluga espaços, decoradores, quituteiras, fotógrafos, floricultores, entre outros. Se for caso de vida ou morte, justifica-se.
Só não entendo como podem ir ao cinema as mesmas crianças que não podem freqüentar as escolas. Bom aproveitar as férias inesperadas para ver Harry Potter e A Era do Gelo 3, não? E os jovens, impedidos de se formarem, por razões de força maior, podem freqüentar os bares da moda, que continuam funcionando? E o festival de cinema de Gramado, foi cancelado? Em vista dessas questões, cabe a dúvida sobre a periculosidade?
A gripe comum causa milhares de óbitos, todos os anos, principalmente nos meses de inverno. A gripe A, até o momento, causou cerca de 800 óbitos, no mundo todo. É terrível, sei, para cada um que perde seu ente querido. Da mesma forma que se sente quem perde alguém, num acidente nas estradas ou na queda de algum avião. Nessas circunstâncias, os outros procuram se resguardar, não deixando de viajar, mas procurando roteiros terrestres menos perigosos e companhias aéreas mais confiáveis, entre outras medidas.
Da mesma maneira, assustadas com a proliferação da gripe A, as pessoas pensaram na maneira mais simples para dificultar o contágio: higienizar as mãos, constantemente. As farmácias logo ficaram sem o gel antisséptico. Interessante nunca haver sido feita campanha nesse sentido, anteriormente. A higienização deveria ser obrigatória, à entrada e saída de hospitais e restaurantes, pelo menos. Sai caro? Com certeza, mas pior é remediar, depois do mal feito.
No Brasil, por precaução, aglomerações são desaconselhadas; no mesmo período, um navio caribenho, em tour pelo Mediterrâneo, teve 60 tripulantes com testes positivos para a gripe A. Os tripulantes ficaram confinados em suas cabines, enquanto aos passageiros foi permitido descer e passear em porto francês e depois seguir viagem, tranquilamente.
Por essas e outras, “eu só queria entender”, como falava um personagem antigo.
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