Quando alguém perguntou ao poeta qual seria, em sua opinião, o melhor presente de Natal, ele não pareceu achar dificuldade na pergunta. Falou, apenas, com jeito que imagino tranqüilo: Gostaria de receber uma caixinha vazia. Pode ser que dentro dela venha a paz.
Só mesmo um poeta para ter idéia tão genial. Uma caixinha vazia, em que cada um coloque o seu desejo. Poderá ser Amor, Carinho, Sucesso, Prosperidade, Fartura ou Felicidade. Ou qualquer outra coisa, ao gosto de quem presenteia.
Ao receber o presente, o presenteado teria o direito (e o poder) de fazer a sua adaptação. Poderia apertar um pouco o Amor para acrescentar Carinho ou comprimir bem o Sucesso e acrescentar Solidariedade, que essas coisas funcionam melhor com seus complementos.
Poderia até, o presenteado, pedir para trocar o presente, assim como se faz tantas vezes, quando se recebe uma echarpe, mas é a bermuda que faz falta. “Prosperidade? Já tenho que chegue, não leve a mal. Mas apreciaria um pouco de Ternura”.
Escolher o presente certo para cada pessoa é tarefa digna de Hércules. Cheia de boa vontade, a pessoa se esmera na escolha, mas em geral compra algo do seu gosto, com muita possibilidade de passar os próximos anos esquecido no armário do outro, quando não é posto de lado, já no primeiro momento. Menos mal quando o presente é sujeito à troca, pois aí o presenteado tem uma segunda oportunidade.
Pessoas interessadas em agradar costumam ter ouvidos atentos, prontos para detectar mensagens subliminares, em qualquer época do ano. Alguém manifesta interesse por música romântica ou country, ficção ou biografia, shorts ou vestidos, brincos pequenos ou grandes, artigos despojados ou sofisticados; em momentos descompromissados, externa as preferências, confessa as coisas que abomina. Outro presta atenção, sem dar a perceber que anotou no caderno mental. Quando surge a oportunidade ou a necessidade de presentear, recorre à memória ou à anotação e lá está: “Maria deseja um brinco preto”. Bingo! Esse foi de barbada!
Mas, apesar de toda a boa vontade, parece mais fácil errar que acertar. Eu, por exemplo, quando estou certa de que a blusa é a cara da amiga é porque ela já tem outra igual, presenteada por mim no ano passado.
Por outro lado, por distração também se acerta. Pois não foi o que aconteceu, quando achei que a pulseira preta parecia combinar com outra amiga? Ao receber o presente, ela realmente pareceu satisfeita, principalmente por ser igual ao colar preto que já me emprestou, em outra oportunidade, conforme me fez lembrar, fazendo-me entender a "parecença".
A resposta do poeta, contudo, representaria a solução para todos os problemas de escolha de presentes. Uma caixinha aparentemente vazia. Com um simples desejo, expresso verbalmente. Ou cheia apenas de intenção, se isso não parecer comodismo: coloque nela o que desejar.
Tão singela e inteligente a dica do poeta, faz com que a gente se sinta idiota, batendo pernas pelas ruas, olhando vitrines e vasculhando lojas, com a intenção de agradar. Seria tão mais simples, se caixinhas multicoloridas resolvessem todas as escolhas. Êpa! Seria mesmo?
Quantos questionamentos uma simples caixinha com a tampa aberta, à espera da prioridade para preenchê-la, poderia ocasionar? Quantas discussões e desencontros cada conteúdo declarado desencadearia? “O quê? Você priorizou Sucesso e Prosperidade?” _ diria a mulher, preparando-se para começar a vigésima discussão sobre o relacionamento. “Festas e Namorados? Você só pensa nisso?” _ reclamaria a mãe.
Olhe, o poeta que me perdoe, mas já não estou achando a idéia tão boa. Assim, com licença, desisto da caixinha e estou saindo, lembrei que falta um último presentinho.
Um comentário:
Nossa vida está dividida em fases. Assim dependendo de qual fases estamos no momento,nossas prioridades sofrem alterações, ao menos é o que,comigo, acontece.Já desejei horrores de coisas, algumas até inúteis, mas agora, apenas desejo PAZ,SAÚDE, AMOR, TERNURA e VALORIZAÇÂO. Acho até que já me contento com as duas primeiras...
Beijos
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