Leio que, em Pelotas, a Secretaria de Cidadania e Assistência Social realiza campanha de agasalho, com a intenção de ajudar a população carente. Com essa atitude, preocupa-se em diminuir, ainda que em pequena parcela, o sofrimento de muitas pessoas, inclusive dos moradores de rua, no momento em que procuram os albergues, quando têm oportunidade de tomar um banho, aquecer-se com uma sopa e vestir roupas limpas, antes de voltar à sua triste sina.
Em todas as cidades, a solidariedade faz com que milhares de pessoas se mobilizem, à chegada do inverno, separando roupas, calçados e objetos que possam ser aproveitados nas diversas campanhas e bazares beneficentes. Contribuir talvez faça mais bem a quem dá do que a quem recebe, pela sensação gratificante de estar ajudando a alguém, mas até aí tudo bem. É bom que assim seja e que cada vez mais pessoas se solidarizem e consigam sair do seu casulo, passando a enxergar a realidade do outro, procurando não julgar, nem condenar, principalmente quando não conhecem as razões ou o desespero que levaram cada um a esse tipo de situação.
Mas, na mesma reportagem em que tomo conhecimento do início da campanha, leio o apelo da Secretária de Cidadania para que sejam feitas doações apenas de artigos aproveitáveis. Ou seja: roupas limpas, ainda em condições de uso; pares de sapatos, em vez daquele único pé que sobrou no armário, depois que o cãozinho de estimação roeu o outro; meias em que os dedos não saiam pelos buracos causados pelo uso prolongado; nada de panelas furadas, louças quebradas, cobertores mofados.
Pessoas que trabalham em entidades assistenciais e costumam promover bazares, tanto para angariar fundos como para beneficiar o público atendido, conhecem bem essa realidade: grande parte do vestuário recebido não pode ser entregue aos necessitados, após a triagem, sob risco de causar mais mal que bem, despertando o rancor, em lugar do reconhecimento, além de não atender ao fim desejado. Se a idéia é a utilização do bem ofertado, o que uma pessoa pobre, às vezes miserável, fará com um pé de tênis ou com uma camisa sem botões? Algumas donas de casa zelosas retiram os botões das camisas, antes de entregá-las para doação, “porque podem ser necessários”. Imagine-se, nesse caso, a situação daquele cidadão carente, ao receber uma camisa nessas condições. Comprar botões, linha e agulha? Melhor atirar a camisa pro lado, com um pensamento nada lisonjeiro para quem teve a idéia de fazer tal “doação”. Acaso pensa, o doador, que competiria aos organizadores das campanhas o trabalho de lavar as roupas recebidas, costurar quando necessário, repor os botões? Embora, em algumas instituições, isso seja feito, necessita o envolvimento de voluntários para uma atividade que poderia ser facilitada pelas pessoas de boa vontade, principalmente se a intenção é auxiliar e não apenas se desfazer de coisas que estão atravancando.
Ajudar ao próximo, de qualquer forma e em qualquer situação, é um sentimento reconfortante. Quem doa se sente bem consigo mesmo. Mas qualquer ajuda se torna mais verdadeira se, em vez de caridade, for considerada solidariedade, sentimento em que um se coloca na posição do outro e oferece o tratamento que gostaria de receber, se os papéis fossem invertidos. Nesse caso, contribuindo com o seu supérfluo, ainda em condições de ser aproveitado por quem precise mais.
Um comentário:
O têrmo "solidariedade" é o mais certo, carinhoso,reconfortante.Sempre contribui com ótimas peças, lavadas e embaladas, no caso, como eu gostaria de recebê-las.
Beijos
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