O homem falou: “Gostei do que escreveste sobre as pessoas de bem: é bom ser lembrado de que elas existem. A gente se acostuma com tanta malandragem que até passa a generalizar”. O jovem falou “Gostei de algumas coisas que disseste, naquela crônica; discordei de outras. As pessoas não são inteiramente boas ou más. Gente de bem também faz bobagens, se comporta mal de vez em quando, fala o que não devia falar. Santos têm pés de barro, muitas vezes”.
Gostei das duas observações. Feliz de quem, ao publicar os seus questionamentos, consegue que outros externem os seus. De maneira geral, quando se dispõe a escrever sobre determinado tema, o sujeito já pensou bastante sobre ele. Ainda assim, é comum uma maior elaboração do pensamento, à medida que a idéia é desenvolvida. A oportunidade de troca de opiniões, após o texto publicado, é a continuação perfeita para idéias que continuam fermentando, pois tema algum se esgota em si.
O homem assimilou, ao pé da letra, a mensagem de esperança implícita na frase: “A boa notícia é que gente de bem existe”. O jovem receou que, ingênua ou radical, eu classificasse as pessoas em boas ou más, apenas. Como se dividisse o mundo em dois, a uns destinasse o céu, a outros o inferno. Em alguns só visse qualidades, em outros defeitos.
Todos nós podemos ser magnânimos e maravilhosos, algumas vezes, e mesquinhos e desprezíveis, em outras. Essa é a nossa humanidade.
Mas, dentro das atitudes detestáveis que podemos ter, algumas jamais combinam com pessoas de bem, embora _ em situações extremas _ até o mais santo dos homens possa roubar ou matar. Em circunstâncias normais, contudo, pessoas de bem não roubam, ainda que encontrem uma carteira aberta à sua frente; não mentem, mesmo que a mentira seja a desculpa perfeita; não devolvem à loja a roupa usada, dizendo que afinal não serviu; tampouco solicitam à loja o empréstimo da mesa, para ver se fica bem na sala, e devolvem depois da festa, com a explicação de que não combinou; não arranham o carro alheio e fogem, aproveitando-se que ninguém presenciou _ entre tantas outras atitudes que servem para definir alguém.
Em resumo: pessoas de bem (ou do bem) são idôneas. Podemos ficar tranqüilos, junto a elas: não nos pregarão peças desagradáveis, nem nos passarão para trás, quando estivermos desprevenidos. Cometerão erros, vez por outra, mas serão capazes de reconhecê-los e corrigi-los, na medida do possível. Externarão suas opiniões e saberemos com quem lidamos (como fez o jovem do início desta história), em lugar de prepararem seu discurso com tudo que sabem nos apeteceria ouvir.
Mas, como disse antes, ser do bem é diferente de “ser bonzinho” e aceitar tudo, sem questionar. Também é diferente de ser conivente e achar que “é assim mesmo; não sou eu que vou mudar alguma coisa. Se tiver oportunidade, vou mais é aproveitar”. Da mesma forma que é diferente de ter um comportamento incorreto, no dia a dia, e pretender que os nossos representantes em cargos oficiais tenham compostura.
E esses questionamentos, apesar de servirem para todos os dias e relacionamentos da nossa vida, são especialmente úteis nesse momento em que estamos prestes a ir às urnas, mais uma vez, para decidir o futuro do nosso país. O nosso futuro.
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