Após realizar vários cruzeiros marítimos, em diferentes companhias de navegação, sem o menor contratempo ou dissabor, passei a considerar essa como uma forma civilizada de viajar. “Sem as demoras ou congestionamentos dos aeroportos, sem o estresse das estradas rodoviárias” _ costumava afirmar, procurando animar amigos mais comodistas.
Inúmeras vezes, observando a desorganização das chegadas e partidas, nos aeroportos, comparava com o eficiente embarque de mais de dois mil passageiros, nos navios, tendo recém desembarcado os passageiros do cruzeiro anterior. Tanta metodologia me tornou fã incondicional de viagens marítimas, embora sem opinião sobre os cruzeiros nacionais, por nunca ter experimentado. Nessa condição, incentivei algumas pessoas a optarem por esse tipo de viagem, quando aborrecidas com a perspectiva de carregar malas e trocar de hotel.
Mas, no final de novembro de 2010, no porto de Savona, na Itália, preparando-me para embarcar no transatlântico Costa Serena para retornar ao Brasil, percebi a temeridade de entusiasmar outros a fazerem o que conosco deu certo. Porque ali começava um cruzeiro diferente de todos os anteriores. Para começar, demoramos várias horas para conseguir embarcar, em virtude dos poucos funcionários para efetuar o check in. Em outros portos _vários nos Estados Unidos, em Portugal e na Ásia _ o check in se processara com espantosa rapidez, levando-me a crer que fosse o comum.
A bordo, logo percebemos que o atendimento não corresponderia às expectativas, apesar de já preparados para algumas concessões, em virtude de serem 3.780 passageiros.
Tal contingente humano fazia com que, em todos os locais de uso comum, exceto no enorme teatro, faltassem lugares disponíveis. Observe-se que havia vários salões para dançar ou ouvir música, com excelentes músicos, mas quem pretendesse mesa precisava se instalar cedo. Da mesma forma, no café da manhã, para encontrar lugar e se servir com relativo conforto, era preciso escolher o melhor horário.
Alguém pensará, naturalmente, que o problema fosse o grande número de passageiros, mas em outros cruzeiros, com maior número, isso não ocorreu. De qualquer forma, a experiência serviu para nos alertar para a necessidade de observar a relação entre a capacidade das áreas comuns do navio, número de passageiros e tripulantes, itens sempre disponibilizados pelas companhias de navegação e que precisam ser considerados.
Verdade que, no correr dos dias, aprendemos a driblar alguns inconvenientes: descobrimos que o café podia ser servido na cabine, na hora escolhida por nós; passamos a almoçar no único restaurante meio-termo entre self-service e atendimento por garçom; submetemo-nos ao horário propício para conseguir mesa, nos locais com música ao vivo; fomos cedo para a piscina, quando interessou. No restaurante convencional, sempre bem atendidos pelo garçom designado para a nossa mesa, optamos por apreciar o vinho e não criar expectativas sobre os pratos de nomenclatura apetitosa e sabor insosso, contrariando a fama gastronômica dos italianos.
E, assim, driblando os inconvenientes e procurando tirar o melhor de cada situação, pudemos desfrutar a bela travessia da Itália ao porto de Santos, em dezoito dias. Que vale outra crônica, naturalmente.
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