Em crônica anterior, comentei a viagem de retorno ao Brasil, vinda de Savona, na Itália, a bordo do navio Costa Serena. Pela primeira vez, após participar de vários cruzeiros marítimos, encontramos alguns fatores não condizentes com a idéia formada sobre esse tipo de viagem.
Os passageiros brasileiros, é preciso que se diga, destacaram-se pelas boas maneiras, ainda que frustrados tanto em suas expectativas a bordo como com o comportamento de muitos estrangeiros.
Grande parte dos cruzeiros realizados por nós partiu dos Estados Unidos, com maioria de americanos, gente que respeita o espaço dos outros sobremaneira. O Costa Serena, partindo da Itália, trouxe maioria de europeus, muitos dos Leste Europeu, gente ainda desacostumada a conviver, talvez. Em virtude disso, furavam a fila, com a maior desenvoltura, davam encontrões, sem pedir desculpas; nos elevadores, permaneciam à entrada, obrigando os outros a pedir licença para entrar; nos banheiros femininos, era comum não puxar a descarga e deixar papel higiênico no chão, entre outras atitudes surpreendentes em pessoas tidas como civilizadas.
Os cruzeiros, de maneira geral, ficaram muito acessíveis, econômicamente, podendo ser pagos em inúmeras prestações. Essa circunstância, apesar de alvissareira, proporcionou mudanças nem sempre agradáveis. No Costa Serena, o grande número de passageiros _ cerca de 3.780 _ ocasionou congestionamentos freqüentes nas áreas comuns aos hóspedes do transatlântico que, apesar de enorme, não parecia preparado para tal contingente.
Na mesma linha de atendimento não condizente com as expectativas, o setor alimentação, ponto forte nos cruzeiros marítimos, de maneira geral, mostrou-se fraquíssimo, nesta viagem do Costa Serena. No restaurante convencional, os pratos, embora apresentassem carnes nobres (lagosta, camarões, lula, cordeiro, coelho, filé bovino), jamais faziam jus aos ingredientes utilizados. À noite, caso alguém optasse por não jantar no restaurante convencional, a alternativa era a pizza do andar 11, sem quaisquer acompanhamentos, sequer um sorvete de sobremesa. Fato inédito, aliás, pois a alimentação elaborada e farta é prazer costumeiramente proporcionado, nas viagens marítimas, em geral.
Como já me referi a tais problemas em crônica anterior, não vou me repetir, mas talvez seja interessante observar que essa opinião coincidiu com a de muitos outros passageiros, inclusive alguns que já haviam viajado nesse mesmo navio e estranharam as mudanças ocorridas. No entanto, como muitos passageiros relataram o seu descontentamento, no solicitado relatório final, há esperança de que os contratempos sejam solucionados, nesse período em que o navio permanecerá na costa brasileira e no retorno à Itália, após a temporada de verão.
Apesar dos inconvenientes, contudo, é bom lembrar que a ênfase dada à alegria, à descontração, à boa música, no Costa Serena, de certa maneira atenuaram os desconfortos. E, ao contrário de outros hóspedes, só temos elogios ao jovem filipino responsável pela cabine 8432 e ao garçom que nos atendeu, ao longo dos dezoito dias da travessia.
Mas é importante que nós, turistas brasileiros, aprendamos a ser mais exigentes, para sermos respeitados e não mudem as regras, quando os navios singram as nossas águas.
Por isso, antes de contratar qualquer itinerário, vale buscar informações sobre a administração e a organização de cada navio com as companhias de turismo e com outros viajantes, para que a realidade corresponda às expectativas e os cruzeiros marítimos continuem proporcionando momentos de relaxamento, confraternização e alegria, razões que têm feito cada vez maior número de pessoas se interessarem por eles.
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