10 de jul. de 2011

Eu tô numa idade...

Quem sabe se, justamente por estar perto desta idade, cada vez ouço mais frases começadas com “Eu tô numa idade...” E cada um completa a frase à sua maneira ou conforme a motivação do momento, todos cheios de razão e convictos dos seus direitos, inclusive o de deturparem o idioma nacional. Uns dizem que estão em idade de falar tudo o que pensam, outros de não levar desaforo pra casa ou de só fazer o que têm vontade. Por decreto pessoal, tem homem que se recusa categoricamente a usar gravata, marido que deixou de acompanhar a mulher ao cinema, mulher que não faz mais as comidinhas gostosas que fazia, muitos que se acham espirituosos externando todas as suas impressões, alguns que aboliram os banhos diários, outros sem a menor paciência com crianças e jovens. Todos nessa “tal idade” em que acreditam haver conquistado o direito de fazer e dizer tudo o que lhes der na veneta.

De repente, parece que as pessoas resolveram se assumir com toda a sua irascibilidade, impaciência, impertinência. Como se houvessem passado a vida se violentando, por se mostrarem gentis, agradáveis e participativas. Agora, chegando a certa idade, concluíram que basta disso, o melhor é virar a mesa, ser autêntico às raias da grosseria.

O estranho é que, num mesmo grupo, se muitas pessoas nessa “tal idade” e com igual disposição de falar tudo o que pensam, doa a quem doer, exercerem os “direitos adquiridos”, as conseqüências serão previsíveis. Se um falar o que quiser, de qualquer jeito, sem medir as palavras, e o outro não estiver mais em idade de ouvir desaforo, se a questão não acabar em socos, pelo menos redundará no afastamento e na quebra de relações.

Quando alguém sai por aí a ditar regras e a apontar defeitos alheios, alguns até podem ouvir, por pura educação, quando educados para respeitar os mais velhos. Mas, ainda que não cheguem ao ponto de revidar com respostas desaforadas, é provável que se afastem, na primeira oportunidade, porque ninguém gosta de gente dona da verdade, tenha a idade que tiver.

Mas cadê a sabedoria proporcionada pela idade, gente? O bom senso dos anciãos, comprovado nos conselhos das sociedades antigas? A paciência e benevolência da velhice? A tolerância aumentada pela lembrança das bobagens que também se fez e disse, quando jovem? De uns tempos pra cá parece que tudo isso se transformou em impaciência e pressa em curtir a vida à maneira de cada um, como se antes o sujeito não fosse dono do seu destino e nada pudesse fazer do jeito que gostaria.

Será uma geração de frustrados a desses que enchem a boca para falar “eu tô numa idade...”, como se houvessem acumulado desejos insatisfeitos, ao longo de anos? Puxa, que pena dessa gente que precisou envelhecer para ter a coragem de ser como é. E pena maior ainda de todos que precisam conviver com eles, aguentando essa turma de donos da razão, sem capacidade para enxergar os outros universos, sem empatia para entender que há problemas mais difíceis de carregar que esses anos que pesam nas costas. Sem discernimento para compreender o quanto ainda poderiam contribuir e acrescentar, em lugar de comodamente bater em retirada.

Por outro lado, tudo tem seu lado positivo: imagine que desaforo talvez representasse esta crônica, se escrita por alguém muito jovem. Já na minha idade...

Um comentário:

Ruthe Nudilemom Peters disse...

"Tô numa idade, sim e não nego! Agora só faço o que me dá prazer, algumas obrigações, naturalmente e seguindo os conselhos de Lauro Trevisan, pensar bastante em mim, pois já pensei demais nos outros
Tudo que faço, não prejudica o próximo, assim estou isenta de culpas.

Beijos