29 de jul. de 2011

O que você faria se não tivesse medo?

Muitas vezes, nas prateleiras de diferentes livrarias, o livro me lançou um olhar esperançoso, pronto para mudar de endereço. Magrinho, com um título apelativo, era sempre preterido por outro, justamente pela escassa leitura que proporcionaria, em ocasiões em que um livro mais volumoso se tornava necessário para entreter as horas. Não sei se afinal o li inteiro ou somente o folheei, indecisa sobre levá-lo ou não. Sequer sei se era meu o exemplar que encontrei, comprimido entre outros, na prateleira da casa. Sei que a leitura faz pensar e isso é o melhor que se pode dizer de qualquer livro.

“Quem mexeu no meu queijo?”, de Spencer Johnson, é a história _ aparentemente infantil e despretensiosa _ de dois homenzinhos e dois ratinhos, que, após encontrarem um aposento repleto dos mais variados e deliciosos queijos, passaram a viver lá, no maior conforto e felicidade, convencidos de que aquilo duraria para sempre. Certo dia, ao acordarem, homens e ratos viram o aposento vazio: todo o queijo sumira. “E agora? O que fazer?”, “Não foi justo o que aconteceu conosco” _ foi o mínimo que os homenzinhos pensaram, concluindo, num primeiro momento, que deveriam simplesmente esperar, pois os tempos de fartura com certeza voltariam.

Assim ficaram, esperando e se lamuriando, enquanto suas forças diminuíam. Diferente dos ratinhos, que, mal perceberam a falta do alimento preferido, saíram a correr pelo labirinto, à procura do Novo Queijo.

Mudanças acontecem, esporadicamente. Nada permanece igual, por maravilhoso e confiável que pareça ser. Mudanças acontecem nas cidades, nas empresas, nas famílias, nos relacionamentos e dentro de cada um. É mais comum que se processem lentamente, algumas despercebidas pra quem se sente confortável, acreditando que fechar os olhos é garantir a continuidade.

Mudam as circunstâncias e o que era essencial perde o valor, torna-se obsoleto. Enquanto alguém reage, parte para outra, descobre um “queijo” maior e mais gostoso, não falta quem fique patinando na perda, incapaz de dar a volta por cima.

Alguns estão sempre alertas, prontos para novas oportunidades, como os ratinhos da história. Reagem às surpresas e imprevistos procurando novos caminhos pelos labirintos. Outros ficam travados, incapazes de se renovar, perdida a segurança que acreditavam direito seu. Saudosistas, vivem de lembranças, esperando a volta milagrosa de algo que o tempo levou. Por outro lado, como Haw, um dos homenzinhos da história, há quem se acredite sem forças para construir algo novo, até compreender que disso depende a sobrevivência.

Para o bem ou para o mal, mudam as situações e as circunstâncias; mudam as pessoas ao nosso lado; mudamos nós. Surgem novas necessidades e interesses, pontos comerciais abrem e fecham, produtos ontem valorizados viram sucata, amores e parcerias sucumbem ao tempo. Quem consegue se reciclar segue em frente; quem resiste ás mudanças logo descobre que ficou pra trás.

O desconhecido é uma incógnita, porta aberta para não se sabe o quê, por isso o homenzinho parou à entrada do labirinto e se perguntou: “O que você faria, se não tivesse medo?”.

Não vou contar todo o livro, porque escritores preferem ser lidos, naturalmente. Mas essa é uma boa pergunta pra gente se fazer, de vez em quando.

Um comentário:

Ruthe Nudilemom Peters disse...

Tenho medo só de pensar o que faria se não tivesse medo!
As metáforas do livro "Quem mexeu no meu queijo" são preciosas, valendo por uma filosofia de vida, incomparável, assim como tua, preciosa, Crônica - Parabéns!
Beijos