Recebo mensagens gentis, com aparência de idôneas, através da internet: umas dizem que o dinheiro já foi depositado na minha conta, que acesse o site ali indicado, para ver o comprovante; outras avisam que estou em dívida com lojas onde nunca comprei ou, agressivas, reportam problemas com o SPC ou com a Receita Federal.
Antes, recebia, uma após outra, informações de que estava sendo traída, olhasse as fotos ali enviadas, para comprovar; ou abrisse o anexo, que fotos minhas, em poses comprometedoras, estavam à espera.Eu me apressava a deletar os emails, antes que a curiosidade pregasse alguma peça.
Mensagens falsas, enviadas a inúmeras pessoas, funcionam como iscas para pescar o incauto. Excluídas sem acesso aos sites indicados, não chegam a atingir seu objetivo, que seria o de imiscuir vírus no computador, ou se apossar dos dados do desprevenido internauta, causando problemas de perda de informações ou até financeiros.
Alvos costumeiros de todo tipo de malandragem, algumas muito perniciosas, outras consideradas graça de quem não tem mais o que fazer, terminamos por nos adaptar a esse tipo de situação, passando a encará-las quase com naturalidade.
Na Universidade Católica de Pelotas, duas irmãs, vindas de Minas Gerais, tentaram fraudar o processo, com eficiente apoio tecnológico, fazendo a prova para Medicina em lugar das verdadeiras candidatas, que nem se deslocaram de sua cidade.
Acompanhando as duas jovens, estava o pai de ambas, dizendo-se inocente, por acreditar que as filhas prestavam vestibular em seu próprio interesse. Exemplo de discrição, essas meninas. Que maravilhosas e conscientes médicas seriam as outras, caso conseguissem se sair bem no curso, mesmo entrando pela porta dos fundos. Mas o pior é a naturalidade com que lemos a notícia, habituados como estamos à safadeza.
No rádio do carro, ouço mensagem para evitar a “pirataria”, pois a compra de artigos “pirateados” faz com que milhões de reais sejam surripiados aos cofres públicos. Dinheiro que seria utilizado na educação e na saúde, assegura a mensagem radiofônica. “Até parece”, penso. E estranho que, em vez de priorizar o prejuízo causado aos donos da idéia (aos que criam os produtos, depois pirateados), a mensagem só externa a preocupação com os impostos que deixam de ser pagos. Aqueles que deveriam ir para a educação e a saúde, mas que milagrosamente escapam pelo ralo da corrupção.
Vivemos um momento ímpar de mau-caratismo e falta de vergonha, quando aqueles que deveriam dar o exemplo são os primeiros a transgredir. Mas a boa notícia _ não diz que sempre há alguma? _ é que a turma do contra, daqueles que se recusam a entrar nessa de tirar vantagem, a qualquer custo, ainda é enorme. Há muito mais gente honesta, solidária, incapaz de causar o mal, conscientemente, do que pessoas desse tipo que enche os jornais ou a caixa de emails, diariamente. A diferença é que boas ações, gestos altruístas, rendem notinhas que não despertam atenção, nocauteadas pelas outras, de maior impacto.
“O exemplo vem de cima”, aprendemos desde cedo. Na Revista Pais e Filhos de novembro, um artigo lembra sobre a importância de falar as três palavrinhas mágicas _ por favor, com licença e obrigada _ para que as crianças se acostumem a repeti-las, tornando-se pessoas gentis, com facilidade para abrir portas e manter convívio agradável.
É tempo de ensinar também às crianças que “o crime não compensa”, como se dizia antigamente: a safadeza, quando associada ao nome de alguém, é como xixi de zorrilho, impregnado na roupa. Pode-se deixar a peça de molho, que o mau cheiro permanece.
Um comentário:
É impressionante como chegam mensagens perigosas. A Internet é um veiculo de diversão e de muita utilidade, mas estas pessoas desgarradas, instigam temor, e o que era para ser uma coisa maravilhosa, acaba se tornando um risco e assim todo cuidado é pouco...
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