5 de jan. de 2013

Seja lá o que nos apresente

O ano acabou, sem que o mundo acabasse. Novo ano começa, pra chateação de alguns, enjoados desse entra e sai de datas, a obrigação de festejar, alegrar-se. Outros acreditam em virar páginas, arrancar as rasgadas ou mal escritas, recomeçar do zero. A virada do ano mexe com as cabeças e sentimentos, expectativas e esperanças renovadas, todos à espera do seu quinhão de felicidade. Muito poder atribuído ao dia que desperta.

Prefiro imaginar o ano novo como bebê, sem pai nem mãe, entregue aos meus braços. Não vem cheio de promessas, pronto a realizar os sonhos que outros, antes dele, não puderam realizar. Ao contrário do que se acredita, ele é que vem esperançoso do que farei com ele, se saberei valorizá-lo, tratá-lo com seriedade, acrescentar-lhe oportunidades, fazer com que valham a pena os trezentos sessenta e cinco com que sou presenteada, a cada virada.

Olho para esse bebê indefeso e sei que, se não atendê-lo em todas as suas necessidades, eu é que me darei mal. É bem possível que, antes que o ano termine, seja cobrada por tudo que deixei de realizar, enquanto esperava que as coisas acontecessem, sem o meu esforço e participação. Como acontece com quem insiste em oportunidades inexistentes ou remotas, sem fazer o feijão com arroz, o básico, acreditando que pular etapas é possível. Sonhos mirabolantes nos acalentam, enquanto o dia a dia se esvai, sem que seja aproveitado.

Alguém se queixa da falta de oportunidades no mercado de trabalho, sem perceber que o seu esforço é que não condiz com as necessidades do mercado. Enquanto esse esmorece, outros desbravam caminhos. “Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer”, diz a canção. Outro fixa o foco em concursos variados, à espera do emprego público que lhe garanta a estabilidade, pesado para o bolso dos pais, que já imaginavam vê-lo independente, a essa altura da vida; ao seu lado, os mais afoitos procuram e descobrem novos nichos no mercado, carente de empreendedores.

A mulher fala no ninho vazio, na solidão dos seus dias, mas não consegue dar o passo além, ser concha acolhedora. E se queixa da família, dos amigos, dos colegas de trabalho, sem perceber que muitos apreciariam o seu interesse, o ouvido atento, a palavra animadora _ tudo que não consegue dar, esvaziada de si mesma.
Viver, às vezes, é como dar murros em paredes de cimento. Quando se pensa que a situação engrenou, tudo dá para trás e a ordem é começar do zero. Como o bebê, após o leitinho tomado, olhos quase fechando para dormir, e vem aquele barulhinho de intestino funcionando e o cheirinho denunciador da fralda cheia. Ou a delícia dos pais encontrarem a cama, prontos para o descanso merecido, depois do dia extenuante, e serem chamados à realidade pelo choro aflito da menina, apertando o ouvido que dói. Lá vão eles, às pressas, atrás de ajuda médica, esquecidos de si mesmos.

Mas viver também é gostoso e animador, quando a gente aceita participar do espetáculo, sem nos furtarmos ao que nos cai nas mãos. Responsabilidade que, se nos toca, é porque temos capacidade para enfrentá-la. Seja bem vindo, portanto, o ano de 2013, com suas realizações, alegrias e revezes. E não pense que nos pegará desprevenidos, seja lá o que ele nos apresente.


2 comentários:

Luciana do Valle disse...

Marta tua crônica está maravilhosa....Expressa bem o que sinto e não sei contar...bjao querida

Ruthe disse...

Viver é gostoso e animador, como escreveste! Acredito que precisamos aceitar os altos e baixos que a vida nos apresenta.Fácil? Jamais!De qualquer forma precisamos, ainda, agradecer por termos nascido...