O amor é lindo _ é a doce sugestão do bolo em camadas, confeitado com glacê e os dois pombinhos em cima. A mensagem se repete nos encartes dos jornais e na tela da TV, conseguindo, conforme o momento, que nos sintamos inadequados.
Comemorar o “Dia dos Namorados” é fácil. Comprar presentes, convidar para um jantar especial exige um mínimo de esforço. O cotidiano é o difícil. Os relacionamentos se desgastam no dia-a-dia, na mesmice dos problemas sempre repetidos: as brigas entre os filhos pelas coisas mais banais, como decidir quem ocupa o banco ao lado do motorista, no automóvel; a comida novamente salgada; a chegada da sogra justo na hora em que a casa esvaziou e a idéia era namorar um pouco; o comprido telefonema da mãe; o barulho contínuo do aspirador. Sem falar nos problemas reais, aqueles capazes de abalar qualquer alicerce.
Mas é também no cotidiano que o amor se revela: na certeza de ser único e especial; nas dificuldades enfrentadas juntos; no apoio incondicional; no esforço para crescer e desenvolver; na luta para mudar inclusive nas pequenas coisas causadoras de atritos.
Os relacionamentos sofreram grandes transformações, os sentimentos foram banalizados. No entanto, apesar de todo o modernismo, a mulher ainda deseja o beijo inesperado e o homem gostaria de relaxar, agraciado com um carinho gratuito. Mas correm os dois como moscas tontas, cada um para o seu lado, sem tempo para se olharem. Decerto acreditaram naquela idéia de que ”amar não é olhar um para o outro, mas os dois juntos na mesma direção”.
O amor tem muitas facetas: algumas vezes, camuflado, se confunde com amizade; em outras, a raiva o abafa e ele parece ter sumido. Amor compreende cumplicidade, companheirismo, parceria, generosidade; não aceita egoísmo, falsidade, traições; resiste à cara amarrada e mau-humor, quando alternados com boas doses de carinho. Mas não há receitas, cada história de amor tem seu roteiro.
Em casos de dúvida, munidos de lápis e papel, poderíamos experimentar, em duas colunas, colocar os prós e os contras da pessoa amada, essa que tanto nos eleva às alturas como nos faz sair batendo portas, em desespero. Talvez descobríssemos, então, que as qualidades superam os defeitos. Melhor que isso: nada teria muita graça sem a sua companhia. Embora nem sempre consigamos ser os protagonistas sensuais de um tórrido romance, como aqueles apresentados nas novelas das oito, a vida real pode ser melhor que a mais elaborada fantasia. E, apesar dos pesares, o amor é lindo, mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário