29 de jun. de 2003

O livro explica

Na prateleira da livraria, o título instigante chamou a atenção e, brincalhona, eu o adquiri, com a deliberada intenção de tumultuar o período de férias. Isso porque tratava das diferenças entre o comportamento feminino e o masculino. Depois, ré confessa, fingia não ouvir a frase “O livro explica”, cada vez que, à saída do apartamento, no hotel, eu distraidamente virava à direita, quando o rumo do elevador era à esquerda.

Envolvida com outras atividades, no entanto, demorei um pouco a iniciar a leitura; e ele foi passando de mão em mão, despertando interesse e alguns comentários indignados entre o grupo de amigos. Ouvindo-os, fui me enchendo de razão, com a descoberta de que, apesar de possuir menos neurônios, as mulheres são três por cento mais inteligentes que os homens; têm excelente senso de direção, à curta distância; são capazes de executar várias tarefas ao mesmo tempo; seu campo de visão é mais amplo, entre várias outras qualidades.

Porém, quando tive, enfim, acesso ao livro, além de encontrar a justificativa para a minha dificuldade em localizar o elevador, pude constatar que não haviam sido citados muitos fatores onde a superioridade é masculina.

Segundo os conhecimentos recém adquiridos - embora deles já desconfiasse - homem e mulher vivem em mundos diversos: têm outros valores, interesses e aptidões; sob pressão, reagem de formas antagônicas. O que, às vezes, pode parecer implicância, como, por exemplo, apertar o carro do parceiro na garagem, com tanto espaço sobrando, é resultado de uma habilidade espacial pouco desenvolvida. Da mesma forma, fica mais compreensível assistir a vários filmes ao mesmo tempo, sem pegar o início de nenhum, quando se sabe que a constante troca de canais – bem como o exagerado apego ao controle da TV - é técnica de relaxamento masculino, ao final do dia.

Além do mais, estatísticas tratam de médias, nem todas adequadas a cada um de nós. Algumas mulheres desempenham muito bem tarefas tipicamente masculinas e vice-versa; cada vez mais os papéis se alternam, conforme as necessidades e conveniências; já não existem espaços restritos a determinado sexo, o que é muito bom.

Nesse intercâmbio, procurar entender o universo do outro, bem como explicar a razão de atitudes que parecem absurdas, é estabelecer um canal de comunicação. Porque é ótimo que não sejamos iguais; seremos parceiros muito melhores se nos completarmos, um acrescentando o que faltar ao companheiro. Não só nos relacionamentos amorosos, também nos profissionais e em todas as parcerias.

Essa guerra dos sexos, em que cada um procura expor as fraquezas do outro, colocando o dedo certeiro na ferida aberta, seria adequada a inimigos. No nosso caso, é mais proveitoso compensar que sabotar. Por isso, aprecio o final de um velho diálogo, atribuído aos gaúchos: “Na minha terra, todo mundo é macho” _ disse um. O outro respondeu: “Pois, na minha, tem homens e mulheres e nós nos damos muito bem".

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