Quando bate o desânimo, imaginamos que bom seria, se fosse possível estender a mão e receber o que almejamos, como presente caído do céu. Olhamos à volta e julgamos que muitos possuem tal sorte ou qualidade; só para nós, tudo é difícil e suado.
No entanto, seria interessante ver além das aparências, ouvir mais do que nos desejam contar. O vitorioso do momento talvez nos faça supor que tudo lhe aconteceu de forma natural, como conseqüência obrigatória do seu grande mérito. Porém, salvo raras exceções, as coisas não ocorrem com essa simplicidade.
É preciso lutar, trabalhar, correr atrás, fazer contatos, descobrir o melhor rumo. Aceitar os percalços como parte do jogo, aprender a ouvir “não” sem deprimir-se ou sentir arranhada a auto-estima. Quando as oportunidades começam a aparecer, a princípio escassas, ainda não é hora de sentar para receber os louros. Estagnar é retroceder. Logo mais trabalho aparece e entramos na corrente, ora nos deixando levar, ora assumindo o controle. Só poderemos descansar quando nos bastarem os ganhos e as glórias passadas.Na maioria das atividades, deixar de procurar aperfeiçoamentos é parar no tempo; em muitas, estagnar equivale a retroceder, na medida em que os outros avançam e ficamos para trás, lembrando histórias que só a nós ainda interessam.
Quando alguém relata o sucesso obtido na proeza realizada de improviso, sempre temo que se perpetue tal condição. Nós, brasileiros, temos a cultura do “jeitinho”. Misto de criatividade, malandragem e bom-humor, ele realmente pode nos safar de muitas situações. Por outro lado, a crença de possuir o domínio do assunto, sem buscar maiores conhecimentos, é o caminho certo para o descrédito.
Determinado grau de improvisação pode ser aceito, num curto espaço de tempo. Prolongado, leva à descrença. Deixamos de ser promissores, confiáveis; os outros desistem de apostar em nós. Só o potencial não justifica investir numa causa.
É exaustivo ir ao último detalhe, anotar os erros e os acertos de cada empreitada, tentar fazer o melhor possível, mas esse é o caminho seguro. Sem luta, perserança e trabalho, as coisas não costumam acontecer, exceto para escassos privilegiados.
Seria bem mais fácil creditar o sucesso ao santo da nossa devoção e o fracasso ao horóscopo do dia. Seria fácil, mas não convenceria a ninguém. Embora alguns até finjam nos dar razão, quando enumeramos as múltiplas condições que nos conduziram ao fracasso, todas alheias à nossa vontade. De tanto repeti-las, quase acreditamos nelas. Vendo a nossa determinação em acreditar, calam aqueles que poderiam nos abrir os olhos,
Nesse jogo de esconde-esconde, novamente criamos um mundo de falsas aparências, em que nunca somos culpados de nada.
Quando algo nos sacode da letargia em que nos deixamos afundar, descobrimos a necessidade de lutar pelo nosso espaço.Procuramos brechas por onde desenvolver, compensamos as forças diminuídas, abrimos caminhos insuspeitados. Mas só atravessamos essa fronteira quando abandonamos o papel de vítimas e deixamos de acreditar que os outros recebem tudo nas palmas das mãos.
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