Alguém pergunta se continuo escrevendo e, ao ouvir a resposta afirmativa, indaga se não receio a falta de inspiração. Respondo-lhe que, no momento, falta-me tempo para colocar no papel todas as idéias que me assaltam, como visitantes fora de hora e sem convite.
Quando menina, eu escrevia contos fantasiosos sobre personagens fictícios em cidades que eu não conhecia. Hoje entendo que a vida é a própria inspiração. Basta que eu seja capaz de olhar a volta e perceber as dezenas de universos que me circundam. Em algumas horas, preguiçosa, deixo-me ficar por aqui mesmo, dando-me um tempo de presente. Cavouco o meu próprio interior, desperto lembranças adormecidas, esmiúço o porquê de cada reação, minha ou alheia. Sorrio até, sozinha, recordando fatos passados e olhando-os sob o novo enfoque da maturidade: menos impetuosa, mais tolerante, com a mesma disposição para rir de mim mesma.
Percebo, então, que mesmo a vida mais singela daria uma boa história e todas as famílias têm a sua saga, cheia de amores, traições, romances escusos, dedicação e desprendimento de uns, inveja e despeito de outros. Cada moradia esconde tragédias e sonhos proibidos, ímpetos de glória e acomodação.
Se outra eu fosse, sentaria em frente ao computador e ficaria pensando sobre qual tema escrever, aflita com a falta de idéias _ cega para a riqueza do cotidiano, a complexidade das personagens ao alcance do olhar atento, vilões e heróis convivendo na mesma pessoa.
Sendo quem sou, apenas leio o enredo que a própria vida proporciona. Por isso escrevo sobre as vivências pessoais, dando a cada fato a explicacão subjetiva. Às vezes penso no romance que poderia escrever, se conseguisse me desvencilhar de todas as censuras, mas nessashoras fala mais alto o bom-senso. Quem sabe algum dia vencerei as barreiras que eu mesma me coloco, acitando toda a inspiração proporcionada pela realidade?
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