A expressão surgiu no meio do filme e ficou retinindo à porta do consciente, pedindo licença para entrar. O homem dizia não entender o que acontecera: como pudera se apaixonar por outra, se amava a esposa. Então, pensando melhor, falou que nas relações se criam “espaços vazios”, e nesses podem entrar outras pessoas.
Quando grande parte dos casais se queixa exatamente do oposto, homens e mulheres se declaram sedentos por um tempo só seu, o assunto faz pensar. Sem certo grau de liberdade, relacionamentos podem ser sufocantes. Mantida sob controle, tolhida, qualquer pessoa se torna incapaz de evoluir. Precisamos proporcionar esses espaços aos nossos amados, bem como exigir os nossos. No entanto, se espaço demasiado pode ser danoso, como encontrar a fórmula adequada?
Nas noites sombrias, voltam os fantasmas de tudo o que poderia ter sido e não foi, as palavras que não dissemos por não saber a hora certa, o afago que ficou retido na mão inerte e constrangida. Principalmente, machuca a percepção tardia dos sinais que não percebemos, envolvidos com as nossas necessidades pessoais: os espaços vazios que preenchemos com as nossas queixas e críticas.
Alguém fala menos, diz coisas enigmáticas, tem o olhar triste, o ar cansado, adquire hábitos estranhos, rejeita os convites _ e a gente percebe vagamente as mudanças, deixa pra pensar no assunto mais tarde, quando tiver uma trégua nessa correria louca.
A culpa toma conta e atrapalha a dor da perda, quando é tarde demais. “Se o relógio do tempo pudesse voltar e eu conseguisse refazer os passos” _ pensamos, impotentes, prometendo-nos ser mais solidários, na próxima oportunidade.
Por sermos humanos e preocupados com a nossa própria sobrevivência, talvez façamos tudo muito parecido ainda uma vez e outras tantas. Assim crescem dentro de nós os espaços das culpas que não desejamos encarar e abrem-se fendas na alma, difíceis de preencher. Atordoados pelas solicitações do cotidiano, seguimos meio aos trambolhões, fazendo o que primeiro se nos apresenta, atendendo ao que pede com mais ênfase, ouvindo o que grita mais alto. Tudo sem compreender direito a mágica de discernir entre os espaços que devem ser concedidos e os que precisam ser preenchidos.
Talvez não sejamos tão culpados, dentro desta nossa pobre humanidade, também nós criaturas carentes, é o que tentamos explicar a nós mesmos quando a saudade aperta demais e já não é possível retornar. Sem muito conforto, sei. Mas colocar o dedo na ferida seria tolo e ineficiente, se não servisse ao menos para nos fazer mais compreensivos com os outros, que também nos falham vezes sem conta.
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