Enquanto a mídia trata questões como a da violência, corrupção, estatuto do idoso, horário adequado à abertura do comércio, direitos dos menores, do funcionalismo e tantos outros, parece um pouco fora de propósito falar de felicidade. No entanto, atrás de todos esses temas, esconde-se sempre essa coisa antiga.
A felicidade está no meio do caminho entre a ordem obsessiva e o caos, o formalismo e a descontração, o bom-humor e a sisudez, o espírito aventureiro e o apego à família, a pressa de realizar e a calma para pensar. Pode ser feita de coisas simples ou exigir sofisticação, valorizar os sentimentos ou priorizar os bens materiais, viver no passado ou sonhar com o futuro, ter os pés no chão ou alçar vôo com facilidade. Não importa como se apresente, desde que nela se reconheça o sentimento desejado.
Para isso, precisamos antes conhecer a nós mesmos, saber o que nos acalenta e faz sorrir. Por que reagimos com impropérios à menor provocação? Ou por que emudecemos, quando deveríamos gritar em protesto? Por que a companhia de algumas pessoas nos enche de bom-humor e proporciona tranuilidade, enquanto a de outras nos deixa tensos e aborrecidos? É preciso descobrir onde se abriga a alegria, ao invés de compactuar com irritação que ensombrece a alma. As perguntas que não ousamos formular a nós mesmos vingam-se da nossa incompetência, solapando a auto-estima, amargurando os dias. As decisões que não desejamos enfrentar são como pesadas correntes, atreladas aos nossos pés, impedindo-nos de avançar.
Quando nos presentearmos com um tempo só pra nós e resolvermos utilizá-lo para conhecer a pessoa camuflada embaixo das roupagens que vestimos, encontraremos as respostas. Ainda que estejamos muito ocupados, vivendo a vida de outros, ou não sejamos corajosos o suficiente para recusar o papel que nos foi imposto, podemos dispor de um momento para ser a prioridade. Para parar e pensar: afinal, o que eu desejo?
Sejamos nós mesmos os responsáveis pelas nossas decisões, não deleguemos poderes, não passemos a ninguém procuração para decidir o que nos convém. Felicidade é presente que ninguém dá: ou a gente conquista, ou fica no prejuízo.
Dito assim, até parece que considero fácil atingir esse nível de maturidade. Ou quem sabe julgo ter todas as respostas? Muito ao contrário,sou andarilha em busca de caminhos que não machuquem os pés, procuro nesgas de claridade dentro do mato de eucaliptos, aceito a companhia daqueles que podem me acrescentar, em lugar de diminuir. Acredito estar no rumo certo, enquanto não cansar da caminhada, nem me atribuir o domínio de todas as respostas.
O trabalho da mudança interior não é realizado numa manhã de euforia, em que abrimos a janela e o calor do sol nos faz acreditar no nosso poder de reverter todas as situações; sequer na noite sombria em que o relógio acusa a chegada da madrugada e o sono ainda não veio. Ele é constante e cheio de altos e baixos, mas sem ele a vida teria perdido o encanto.
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