20 de jun. de 2004

Prazo de validade

Como transtornos ocasionados por alimento estragado, algumas pessoas ruminam constante mau-humor, outras se queixam de eterna dor de cabeça ou reconhecem ter perdido o pique e o interesse por tudo, além de inúmeros outros sintomas. Qualquer convivência deve nos causar prazer. Quando, ao contrário, se torna um fardo difícil de carregar, razão de constantes aborrecimentos, quando olhamos à frente e a estrada parece interminável, é o momento de rever as relações.

Leio que, em gestão empresarial, há um limite para as tentativas de preservar um empreendimento. Alguém dá uma oportunidade, duas; caso continue tentando, mais tarde descobrirá que só protelou o final. O apego exagerado ao projeto que não deslancha pode ser motivo de maiores perdas e desgastes; é preciso que o sujeito esteja atento à hora de parar e desistir, convencido de que houve um engano nos prognósticos e é melhor voltar atrás.

Se, na vida profissional, essa atitude pragmática já é complicada, imagine na pessoal. Contudo, relacionamentos também têm prazo de validade. Dito assim, friamente, isso parece ser de extrema crueldade. Pessoas são descartáveis, então? Independente de todo o esforço que alguém possa fazer para conservar o seu relacionamento, alguns ficam vencidos, sim. Embora eu não me refira a pular fora do barco à primeira dificuldade, ignorando a promessa de permanecer juntos “na doença e na saúde, na riqueza e na pobreza”.

Contudo, precisamos sinalizar o nosso desagrado; precisamos questionar, explicar, mesmo incorrendo no risco de entrar na temida “discussão do relacionamento”. Os outros não são culpados, se formos tão cordatos, mesmo magoados ou aborrecidos, a ponto de fazê-los crer que estamos contentes.

Em outras ocasiões, somos nós a não desejar ver os sinais que o outro nos dá. Ele, ou ela, demonstra de mil maneiras que tudo acabou, porém permanecemos ali, firmes, querendo salvar o náufrago morto. E fingimos não perceber que o nosso prazo acabou, na esperança de tê-lo prorrogado.

Parece que deixamos pedaços pelo meio do caminho, quando somos obrigados a tomar atitudes drásticas. Na verdade, ficamos inteiros, quando temos a coragem de assumir posições. Viver é extenuante, às vezes; as águas do nosso percurso costumam esconder perigos insuspeitados. Por isso é importante escolher o vento certo e levar boa companhia. O resto se acomoda.

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