12 de jul. de 2004

É para o teu bem

“É para o teu bem” _ ela falava, conseguindo irritar a filha adolescente. Levei alguns anos para me reconciliar com a expressão; antes, precisei compreender que somente pessoas que gostam muito de nós se arriscam a contestar ou criticar, olhando-nos frente a frente.

A atitude gentil e educada do nosso interlocutor nem sempre significa concordância ou aceitação das nossas palavras. Pessoas que não se importam conosco fingem concordar, às vezes até usam o elogio para agradar; depois, comentam com outros o que não tiveram coragem ou não desejaram nos dizer pessoalmente. São os donos do aplauso fácil.

Só se expõem, arriscando-se a más interpretações, os que se importam conosco. Da mesma forma, só nos arriscamos quando realmente nos importamos com o outro, seja filho, amigo ou colega de trabalho. Caso contrário, o esforço não vale a pena. Deixamos que continue a agir do jeito que quiser, mesmo que vá se dar mal.

O papel do educador parece antipático, até que cresçamos ao ponto de entendê-lo. Julgamos que ele está sempre do contra, prefere dizer "não" a proporcionar um prazer. Quando compreendemos, os papéis foram trocados e estamos no lado oposto. Agora, somos nós a criar as regras.

Neste mundo em constantes mudanças, tornou-se complicado diferenciar o comportamento moderno do permissivo, determinar o comprimento da saia, o tamanho do decote, o vocabulário aceitável, a rigidez ou não dos horários e dos compromissos. A vida moderna está cheia de zonas nebulosas, áreas não definidas de atuação. Precisamos ouvir o nosso bom-senso, essa coisa antiga e sempre atual. Cada um de nós procura o seu ponto de equilíbrio. Julgando tê-lo descoberto, corremos o risco de incomodar os outros, pretendendo alertá-los sem sucesso.

Em outras ocasiões, somos nós que não desejamos ouvir o alerta e nos afastamos, irritados. Quase como fazem os jovens, encerrando-se no quarto e aumentando o volume do som. Pela nossa teimosia, preguiça ou revolta, os outros acabam convencidos de ser pura perda de tempo a preocupação conosco: em lugar de nos ajudarem a melhorar, conseguiram aumentar a área de atrito.

Ao compreender o nosso equívoco, podemos nos aproximar de mansinho. “O que foi mesmo que você falou?", perguntamos, preparados para acolher o conselho sensato. Porque a aprendizagem de aceitar a crítica e tirar proveito dela vai muito além da adolescência: é trabalho pra toda a vida.

De qualquer forma, estejamos ou não prontos para seguir as sugestões alheias, sejam elas pertinentes ou não, é inegável a coragem e o bem-querer de quem nos encara e diz o que pensa do nosso comportamento ou da nossa atuação. E o diz com todas as letras, só para o nosso bem.

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