A Cruzada da Produção – Maio Verde, movimento dos ruralistas gaúchos, chegou a Pelotas ao entardecer do seu primeiro dia, tendo saído pela manhã de São Gabriel. Aqui ela foi recepcionada no trevo de entrada da cidade por centenas de pessoas, homens e mulheres direta ou indiretamente ligados ao campo e tirando dele o seu sustento. Durante uma semana, de forma ordeira, organizada e sem estardalhaços, a carreata percorreu vinte e nove municípios gaúchos,realizando o seu objetivo de conscientizar a população urbana da importância do campo _ tanto na sua mesa como na geração de renda, empregos e tributos. A Cruzada acabou no Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, em Esteio, cerca de mil ruralistas reunidos sob forte chuva, aquecidos pela consciência do seu amor à terra.
Acostumada às lides no campo, assoberbada por responsabilidades sociais, a classe produtora rural sempre se esquivou de manifestações nas ruas. Discreta, laboriosa, prefere o árduo trabalho _ enfrentando intempéries, secas, enchentes, lavouras perdidas, gado magro ou, quando gordo, com preço desvalorizado _ a protestos em praças públicas. Também julga não possuir tempo pra isso. Quem tocará o negócio, pagará as contas, se o produtor rural sair por aí, empunhando bandeiras?
Nesse maio, contudo, a classe produtora rural começou a amadurecer. Sendo o agro-negócio responsável por um terço do PIB nacional, quase metade das exportações brasileiras e trinta e sete por cento dos empregos no Brasil; proporcionando ao Brasil o primeiro lugar mundial na produção de carne de frango, de carne bovina, de soja e de couro; produzindo vinte e oito por cento do café consumido mundialmente, bem como vinte e nove por cento do açúcar consumido em todo o mundo, segundo dados fornecidos pela FARSUL, o produtor rural desperta para a força oriunda de sua união e se sente à vontade para cobrar o respeito que merece.
Em algumas cidades, as rádios locais noticiaram à população a chegada dos ruralistas. Concessionárias, lojas comerciais, postos de gasolina e casas de família ostentavam panos verdes e bandeiras; nos colégios, as crianças aguardavam à frente e acenavam, na aprendizagem de respeitar o trabalho do campo; caminhões buzinavam, em cumprimento aos que lhes garantem as cargas agrícolas; pelas ruas, primeiro da periferia e depois centrais, passantes esperavam com bandeiras verdes; em duas cidades, o povo ofertou lanches aos produtores, que na pressa de percorrer quilômetros mal podiam se alimentar; das sacadas dos edifícios caíam papéis brancos, como a pedir para os campos o direito de produzir em paz.
O agitar das verdes bandeiras dos ruralistas significa o despertar de uma classe. Pequenos, médios e grandes produtores se unem, na necessidade de terem reconhecido o seu direito de trabalhar em segurança. Mas no encerramento, em Esteio, foi notada a ausência de importantes lideranças e de muitas fisionomias esperadas. Toca a alvorada no campo: todos precisam acordar, mostrar a cara e ostentar o orgulho pelas suas convicções. É hora de cobrar posições firmes e adesões. A omissão pode ter um preço muito alto.
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