Sabe aquele tubo de pasta dental quase vazio que a gente ainda aperta um pouquinho, porque esqueceu de passar no supermercado ou não viu que o estoque acabara? Há certos dias em que me identifico com ele: sinto-me assim espremida, amassada, no limite das forças. A lista de atividades parece maior do que a cabível na programação diária, mesmo alterando as horas de sono, reduzindo o horário do almoço, ignorando todos os cômicos anexos das mensagens na Internet, embora algumas risadas fossem necessárias. Aí a máquina de lavar roupa tranca ou a impressora começa a despejar papéis cheios de risquinhos ininteligíveis, exigindo as nossas providências. Dá-se uma espremidinha na pasta e se acomoda a agenda já restrita. Termina o dia, ufa! Para o seguinte, porém, sobraram tarefas que teremos de acrescentar às já programadas. Exaustivo, não? Contudo, nessas horas de sufoco, paro e penso: “Melhor assim, do que quieta em casa, deprimida, olhando uma tela de televisão”. É um consolo fraco, mas no desespero serve.
Fora de brincadeiras, mesmo que um pouco de organização seja essencial e não consigamos realizar tudo o que desejaríamos, viver pode representar estimulante desafio, em qualquer idade. É preciso descobrir o próprio ritmo e aceitá-lo, recusar-se a acreditar em missão cumprida e merecido descanso, ainda que a visão da poltrona em frente à TV pareça tentadora. Se alguém ali se deixar ficar, alheia à vida que pulsa lá fora, breve estará reclamando da repetição dos filmes e esperando visitas retardatárias.
Ao perceber o início do processo, os amigos tentam ajudar: quem sabe fazer ginástica, nadar, viajar a Gramado no final de semana? Conhecer a Pousada do Rio Quente? Diante das negativas, oferecem novas sugestões: aprende a navegar na Internet, pintar cerâmica, participa de um grupo de dança. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa! _ eles quase gritam. Mas a pessoa parece que cavou um buraquinho na poltrona e ali se instalou. Quando percebe, foi deixada de lado, está à margem, esquecida.
O quadro seria triste, se não houvesse a possibilidade de mudança. Mas ela começa, quando olhamos para dentro de nós e não gostamos do que vemos; à volta, observamos outros, em idênticas situações, com excelente qualidade de vida. À noite, tudo parece difícil, até conciliar o sono, às vezes. Mas o amanhecer é o momento para pular da cama e iniciar o trabalho de renovação. Aí a gente olha para a pasta de dentes, lembra que não comprou outra, aperta essa mais um pouquinho, enrola, e descobre que ainda cumpre a sua função.
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