Certos relacionamentos são como campos minados, em que precisamos nos deslocar com a maior atenção: um pé de cada vez, um olhar atento à volta,uma paradinha cautelosa antes do passo seguinte. Pouco podemos fazer, quando são os outros os mantenedores desse “campo minado”. Talvez somente tentar mudar a nossa atitude, procurando ser mais claros,objetivos.
No convívio social, algumas pessoas costumam ser discretas, fazer poucas perguntas, expor ainda menos as suas contrariedades ou dúvidas. Na nossa frente, naturalmente.Nada impede que, ao virar a esquina,externem a outros a sua indignação ou espanto.Melhor seria se ousassem externar as suas angústias e protestos. A franqueza e a sinceridade evitariam muitos mal-entendidos, se não fossem moedas escassas.
Nós também, inúmeras vezes, preferimos a dissimulação. Receamos a discussão,o diálogo aberto,o confronto de opiniões. Desacostumados, com facilidade nós nos sentimos atingidos pessoalmente, quando obrigados a eles; considerando-nos desprestigiados, nós nos fechamos para o outro, privando-nos do conhecimento do seu eu verdadeiro e das suas motivações. Ai de quem discordar da nossa abalizada opinião! Com facilidade é riscado do convívio, considerado um desmancha-prazeres.
No entanto, talvez a maior parte dos problemas cotidianos tenha origem na mania de não nos explicarmos a contento, evitar as confrontações, jamais deixar bem claro o nosso ponto de vista para não sermos cobrados depois. Desse modo poderemos mudar de posição, caso o vento vire. Uns bons camaleões, eu diria. Mas a situação complica, quando extrapolamos, estendendo aos relacionamentos íntimos a postura utilizada no convívio social.
No caldeirão das relações humanas, borbulham sentimentos escondidos, frases retidas, queixas acomodadas no fundo do inconsciente, proibições feitas pela nossa própria censura. Sob a superfície de aparência tranqüila, fermentam descontentamento e amargura. Assim, construímos um mundo fictício, cheio de assuntos perigosos que precisamos evitar.
Usar de sinceridade, falar dos nossos desejos e, ao mesmo tempo, estabelecer os limites que nos são fundamentais é a forma mais segura de conservar o território, seja em casa, na escola, no amor ou nos negócios. Zonas cinzas são nebulosas; preto e branco proporcionam segurança, ainda que assumir decisões pareça difícil, em certas situações.
Enquanto construímos falsos relacionamentos, perdemos a oportunidade de conhecer os nossos iguais, aqueles que nos amariam como somos, para quem não necessitaríamos fingir ser outra pessoa. Além dessas zonas nebulosas onde brincamos de faz-de-conta, há um mundo real e ensolarado. Lá é o nosso lugar.
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