Quando visitei a ala feminina do Presídio Regional de Pelotas, atendendo ao convite da coordenadora do projeto Valorização da Vida, imaginei apenas me desempenhar da melhor forma possível na palestra a mim solicitada. Como quem termina uma atividade, lava as mãos e parte pra outra.Mas, não se sai incólume de uma visita ao presídio. Impossível olhar nos olhos daquelas vinte e cinco mulheres e não ser tocado pela sua descrença, o sentimento de abandono.
Alguém me falou que lá compreendeu quão tênue é a linha divisória entre a legalidade e a transgressão. Um momento de fraqueza, um instante de loucura, as más companhias, a solidão, as nossas carências _ tantos podem ser os motivos a nos obrigarem a transpor aquelas portas.
Aquelas que lá estão,pagando a sua dívida, poderiam ser nossas filhas, irmãs ou até mães, pelas suas diferentes idades. Algumas apresentam fisionomias duras, de quem nada espera; outras, rostos meigos de meninas de vinte anos, que deviam freqüentar corredores de universidade, não estarem sentadas em celas pequenas e congestionadas.
Elas cometeram delitos, sei, e devem pagar. Mas olhei em seus olhos e esse foi o problema. Eu lhes falei da necessidade de lutarmos para transformar em projetos os nossos sonhos, de seguir em frente por uma nova estrada, tentando não cometer os mesmos erros. Falei-lhes de livros, contei-lhes que já havíamos separado alguns para a sua biblioteca _ no momento desativada, por falta de espaço _ e que outros conseguiríamos; falei-lhes nos cursos profissionalizantes que desenvolvemos na Casa Santo Antônio do Menor e, diante do seu interesse, foi combinada a realização do curso para fazer material de limpeza, produto de fácil comercialização.
Com o auxílio de amigas, havíamos organizado um pequeno kit de material de higiene pessoal. Dentro de cada cestinha, junto a sabonetes, xampu, desodorante, absorvente higiênico, colocamos uma violeta. Ao recebê-la, cada mulher começou a examinar a sua flor.
Quando a primeira encontrou uma folha seca e,com jeito, a retirou, senti uma pontada de esperança e fé. Semelhante à fugaz chama que me pareceu vislumbrar em alguns rostos menos endurecidos, quando lhes disse que o projeto Valorização da Vida, coordenado pela Maria de Lourdes Ribeiro, tinha o mérito de fazer a sociedade olhar para o presídio e pensar: O que eu posso fazer por essa gente?
Logo, eu lhes perguntei o que mais necessitavam, que tentaríamos conseguir. Tímidas, elas responderam: livros de primeiro grau, para umas ensinarem às outras; cadernos sem espiral e lápis, para enviarem cartas aos familiares; revistas e livros em geral.
Poderia eu mesma atender a algumas solicitações e dar o caso por encerrado, mas não pertenço ao exército de um homem só; acredito no entusiasmo e na união para atingirmos os nossos fins. Este é o objetivo desta crônica: reunir o material sugerido e abrir espaço para novas idéias. O material pode ser entregue na Casa de Santo Antônio do Menor, à rua da Luz, 12 A, até o dia 27 de setembro de 2004.
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