24 de jan. de 2005

Preconceito

Há diferentes formas de discriminação. Algumas são inócuas e até engraçadas; outras, cruéis, podem deixar marcas para o resto da vida.
Cômico foi o comportamento de uma atendente de sofisticada loja, em Hong Kong, relatado por uma turista. Como essa estivesse muito interessada em determinado colar de turquesas, perguntou à balconista qual seria o preço do mesmo.

Para seu espanto, a outra respondeu:
_ A senhora não vai ter dinheiro para comprar – sem se dignar a dizer o preço.

Quando nos contou o fato, às risadas, a turista completou, bem-humorada,
_ Preciso me vestir melhor.

No entanto, dentro dos padrões brasileiros, ela estava bem vestida.

Ocorre que, para muitos asiáticos, nós, ocidentais, somos seres inferiores. Não possuímos a sua cultura milenar, como os guias turísticos locais não cansam de lembrar.

A narrativa de tal fato logo suscitou outras lembranças e cada um tinha uma história semelhante para contar. Contudo, em qualquer dos casos, ainda que a pessoa se aborreça pela desconsideração, no fundo ela sabe que o outro deve ser um ignorante, para agir dessa maneira, prejudicando o seu negócio ou o seu emprego.

Sem justificativas são outros tipos de discriminação, principalmente quando se referem à cor da pele, sexo ou condição social.

Chocante foi o ocorrido com os jovens William e Cristian Silveira, interpelados por policiais da Brigada Militar, em Porto Alegre, quando corriam para não perder o horário de entrada para a realização das provas do vestibular de Engenharia.

A discriminação foi caracterizada pelo fato de vários jovens estarem correndo e somente os dois, negros, terem sido abordados pelos policiais, como se fossem marginais.

Embora os colegas e outras pessoas tenham intercedido a seu favor, a demora na liberação ocasionou a perda do horário de entrada, prejudicando os jovens.

Aqui não vem ao caso a dúvida sobre se eles teriam chegado a tempo, caso não fossem interrompidos em sua corrida. Importa a diferenciação de que foram vítimas.

Seus pais levaram o assunto adiante, com toda a razão, chamando a atenção da mídia. No entanto, se esse fato houvesse ocorrido com pessoas menos esclarecidas, talvez houvesse passado despercebido.

Por outro lado, se, tal como no caso citado, cada um tiver consciência do seu valor, discriminações passarão a simbolizar apenas ignorância e atraso.

Em lugar de alguém se ofender por ser chamado de negro, deveria responder:
_ Negro, sim, com o maior orgulho.

Como ensinam às filhas as mulheres brasileiras que vi na Suíça, presenteando-as com lindas bonecas negras, orgulhosas de sua raça.

Há um longo caminho a ser percorrido para longe do preconceito e ele começa na aceitação da nossa condição e no orgulho e prazer de sermos nós mesmos.

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