Conhecer Nova York foi choque cultural, abertura de cabeça, amor à primeira vista. Jamais outra cidade me impressionou tanto, talvez pelo momento da vida e pelas circunstâncias em que a conheci. Fiquei lá um mês, naquela ocasião. Precisei enfrentar diversas situações, contornei outras, aprendi e me fortaleci.
Retornei, mais tarde, em rápida estada, gostando de rever os lugares que guardara na lembrança. Agora, passados alguns anos, volto mais uma vez. “Mudou Nova York ou mudei eu?”, foi o primeiro pensamento.
Parece-me que Manhattan perdeu o seu ar pitoresco, atingida pela globalização. As pessoas que circulam pelas ruas poderiam estar em qualquer capital. Sinto falta do saxofonista tocando jazz, no meio da calçada; lamento a ausência dos tipos exóticos, os hippies de então; estranho o desaparecimento das exuberantes afro-americanas, vestidas com opulentos casacos de pele e pequenos chapéus nas cabeças, caminhando para o culto dominical.
Procuro nos cafés as figuras solitárias, os velhos que me causavam pena, sentados às dezoito horas no mesmo banco, dividindo com outros a sua solidão.
Vejo casais, famílias, muitas crianças, a população negra despida do jeito agressivo, inserida na comunidade. Pais caminham com seus filhos de mãos dadas. Antes, eu me perguntava onde andariam as crianças, se morariam todas em bairros distantes. Agora, pergunto-me a razão de tantos carrinhos com gêmeos. É engraçado vê-los, bem embrulhadinhos, só os rostinhos vermelhos aparecendo, alguns protegidos do frio por uma janela plástica.
No comércio, o comportamento também mudou. Agora, em todas as lojas falam espanhol; até português muitos arriscam, desejando ser simpáticos. Na Macy´s, onde só vigorava o idioma inglês e havia pleno desinteresse em atender aos estrangeiros, hoje é corriqueiro o atendimento por latinos.
No oitavo andar, estão os saldos de inverno, com descontos de sessenta a oitenta por cento. Aqui as liquidações são para valer, nada de fingir que baixaram os preços. Ainda no Macy´s, o cartão de visitante estrangeiro, obtido no décimo primeiro andar, com apresentação do passaporte, proporciona o desconto adicional de onze por cento em qualquer mercadoria.
Na cidade em geral, as liquidações foram em fevereiro, como de costume, embora o frio continue intenso, neste início de primavera. Pelas ruas, com escassas nesgas de sol vislumbradas nas esquinas, em virtude dos altos edifícios, caminham homens e mulheres com escuros casacos acolchoados, golas e gorros de pele, luvas, mantas, retirados à entrada de qualquer ambiente, todos muito aquecidos. Em compensação, as vitrines ostentam roupas de pleno verão, vestidos decotados, maiôs, saídas de banho, fazendo-nos tiritar de frio, à simples visão.
O domingo em Nova York também mudou. Antes, nesse dia, a cidade era tomada de apatia. Com as ruas desertas, sobrava a opção de participar de um tour ou caminhar no Central Park. Na atualidade, graças à abertura das lojas, que só fecham às dezenove horas, abrem também os restaurantes, os bares e o centro se enche de vida e animação.
Há mais sorrisos, calor humano e as pessoas já não se agridem, caso se toquem por descuido. Nova York começou a mudar. Mas mudanças são dolorosas e levam tempo, por isso exigem força de vontade e pedem paciência.
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