As datas comemorativas existem para nos lembrar de determinadas pessoas, classes ou circunstâncias. Temos o Dia do Índio, do Amigo, da Criança, das Mães, dos Pais e centenas de outros, os santos incluídos. O calendário se tornou pequeno para tantas homenagens, algumas datas acumulam homenageados, disputando a primazia.
Por conterem maior apelo emocional, também algumas se tornaram mais significativas que outras, agitando a mídia e os encartes promocionais. O comércio festeja a proximidade das que ocasionam maior número de vendas, como o Dia das Mães, das Crianças e dos Namorados.
Algumas datas lembram balas oferecidas às crianças, com o intuito de acalmá-las. Em lugar de proporcionar reais avanços a certas categorias, discursos de enaltecimento são feitos e um canetaço lhes garante o seu momento de glória. Determinada categoria estava reivindicando demais? Pequenos privilégios lhe são concedidos e, de inhapa, uma data anual. É muito provável que, a partir desse momento, ela seja usada para a discussão dos insolúveis problemas, mas pelo menos não pode se queixar: consta do calendário. E sempre alguma criança lembra de oferecer uma flor à professora no seu dia, o que é muito prazeroso. Ou os funcionários de determinada repartição organizam uma festa e confraternizam, o que também é bom.
Outras datas parecem panos quentes colocados nas consciências. Impulsionados pelo apelo da mídia, pais se obrigam a gastar mais do que podem, para atender às exigências dos reizinhos da casa; namorados e velhos casais precisam jantar fora, presentear régiamente, como provas de amor. Se não obedecerem a tais rituais, correm o risco de ser mal-interpretados, parecerem desinteressados. Se o Artur presenteou a Iracema com brincos de ouro, no Dia das Namorados, os das amigas estão mal colocados, mesmo que tenham comparecido com uma rosa vermelha e uma noite inesquecível. Não importa se o Artur é um salafrário, o resto do ano. Isso é o apelo do consumismo, fazendo as nossas cabeças, invertendo os valores, levando-nos a pensar como agrada ao comércio.
Acho que já me fiz explicar: sinto muito, mas estou cansada de datas obrigatórias para demonstrar carinho e amor.
O comércio está certo em aproveitar a onda; eu faria o mesmo, se fosse comerciante. Nós, consumidores, é que não podemos nos deixar consumir. É válido brincar, comprar um presente, se o dinheiro não fizer falta amanhã, organizar um jantar, proporcionar a viagem dos sonhos, mas não se deve extrapolar a importância de datas que nos são impostas, criadas por interesses econômicos ou politiqueiros. Poderá ter muito maior valor uma flor colhida ao acaso, um abraço apertado, um beijo demorado. Ou quem sabe um café da manhã, trazido na cama, uma massagem nos ombros doloridos, uma coberta colocada sobre os joelhos, uma ajuda no estudo para a prova, um olhar que nos assegura que somos especiais. Ou um presente fora de qualquer data imposta, como receber um DVD só porque a gente gosta de certa música. Ou até mesmo ignorar as datas, mas lembrar da gente o ano inteiro e se fazer presente, com carinho e atenções. O comércio que me perdoe, mas isso é o que vale.
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