Primeiro veio a seca. Os agricultores observavam, inquietos, o nível das represas diminuir, preocupados com o arroz em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que olhavam a terra seca, onde a soja se encrespava, prejudicada pela maior estiagem nos últimos trinta anos.
Os pecuaristas estendiam o olhar pelos campos esturricados, assistiam o gado emagrecer, sob o sol inclemente. Tentaram vender o seu rebanho e ouviram um “não”, como resposta, em virtude do excesso de oferta. Aflitos com a proximidade do inverno e com a falta de alimento para o gado, alguns se submeteram aos preços aviltantes, para escapar de mal maior.
Depois, vieram as chuvas, abundantes, ininterruptas. Os agricultores não conseguiam colher os grãos maduros na lavoura. Muito arroz e soja se perdeu, impedidas as colheitadeiras de entrarem nas lavouras. Os agricultores esperaram, atentos às previsões meteorológicas.
Quando o sol retornou, as máquinas trabalharam até a noite cerrada, colhendo o que sobrara. Também os pecuaristas desejaram que o tempo bom se prolongasse, fazendo o capim crescer, beneficiado pelo calor e pela umidade.
Mas tudo isso é rotina na vida do homem do campo, acostumado a trabalhar sempre olhando o céu, desejando ou não a chuva, conforme as condições da cultura e o manejo do gado. Mesmo na atualidade, quando as lides campeiras já utilizam avançadas tecnologias, a natureza pode ser vilã ou esperança.
Como filha de homem do campo, desde cedo conheci as intempéries, destruidoras de lavouras de trigo, e as enchentes que derrubavam pontes, isolando-nos da civilização.
Soube, mais tarde, que as mesmas enchentes, em outras terras, haviam feito estragos maiores, causando a mortandade de centenas de ovelhas, encontradas presas nas cercas de arame, quando as águas baixaram.
Desde menina, portanto, compreendi que a natureza muitas vezes castiga o homem que a ama. Como eu, todos os agropecuaristas aprendem a aceitar os seus revezes. Não podem aceitar, contudo, os desmandos governamentais, o desprestígio de toda uma classe trabalhadora, os preços aviltantes oferecidos pelos seus produtos.
Por isso eles foram às estradas federais, dizer ao povo da cidade que sem o campo ela não sobrevive, que o arroz, o pão, o leite, a soja, o vinho e todos os produtos que fazem a fartura de sua mesa, ele agradeça ao produtor rural. Dizer, com orgulho, que o campo cumpre a sua função social.
O agronegócio propõe um novo modelo agrícola, baseado no apoio ao que produz, para que se faça justiça. Também para que se propiciem milhares de empregos, amenizando a desigualdade e a pobreza nacional. Ao ouvir a voz do campo, tanto tempo calada, a cidade começa a tomar conhecimento da realidade e se faz parceira na cobrança por um Brasil onde a produção seja reconhecida e bem remunerada. Para que o povo brasileiro recupere a sua dignidade e, em vez de esmolas, lhe seja oferecido trabalho.
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