Corria o ano de 1955. Reunidas em uma sala do Clube Comercial, por iniciativa de Maria Leocádia Assumpção, um grupo de jovens se reunia, pela primeira vez, com o objetivo de fazer enxovais para recém-nascidos carentes. Na graça dos seus dezoito anos, não tinham consciência de representar a “juventude dourada” da orgulhosa Pelotas de então, aquelas jovens elegantes e despreocupadas que vestiam longos e etéreos vestidos de tule e dançavam ao som de valsas nos grandes salões do clube aristocrático. As mesmas que passeavam na Praça Coronel Pedro Osório, em alegres grupos, observadas pelos pretendentes, desencorajados pela presença das mães, sempre atentas. Ou as que se permitiam demoradas idas à Confeitaria Brasil, para trocar olhares promissores com os mais afoitos, entre lentos goles de guaraná e muitas risadas. Aquelas também que freqüentavam as matinées do Cine Capitólio, sentadas longe dos namorados, como era de bom tom.
Despreocupadas, escrevi? Se o fossem, não se reuniriam todas as semanas, para, com suas mãos laboriosas, fazerem as bainhas das fraldas, costurarem os cueiros, bordarem os babeiros que bebês desconhecidos iriam vestir, nos pobres casebres da periferia da cidade em expansão. Entre risos, conversas e confidências, trabalhavam, formando os enxovais que seriam doados aos hospitais. Prosperava a idéia de Maria Leocádia, inspirada pelo trabalho assistencial que desde cedo vira as irmãs mais velhas praticarem.
O tempo passou, transformando-as em mães, donas de casa e atuantes profissionais. Envolvidas em diferentes atividades, continuaram se reunindo uma vez por semana, a fim de produzirem as peças onde misturavam carinho e comprometimento social. O grupo sofreu alterações, teve perdas, mas ganhou novas adeptas, dentro do mesmo grupo de amigas. A elaboração dos enxovais foi substituída pela confecção de blusões de lã, doados a escolas carentes e a entidades assistenciais. As reuniões passaram a ser feitas nas casas das componentes do grupo, em chás onde os dotes culinários e a criatividade eram incentivados.
Mulheres corajosas, não se permitiram fraquejar, a cada vez que a vida lhes puxou o tapete e as deixou sem ar. Solidárias, deram-se as mãos e ofereceram o ombro, quando a dor retirou de alguma o referencial. Autênticas e realizadas, transformaram em risos os seus tropeços e da vida seguem colhendo os frutos que ela pode ofertar.
Em 2005, o Clube do Agasalho Infantil completa o seu Jubileu de Ouro, sob a atual presidência de Yolanda Oliosi da Silveira Sica, responsável, com todo o grupo, pelas peças de lã que a cada ano agasalham centenas de crianças desprotegidas da sorte. Ao longo desses anos, muitos, como eu, têm acompanhado o seu trabalho e quero crer que todos lhes somos gratos. Inclusive por nos permitirem acreditar que os sonhos podem se tornar realidade, quando envolvidos em determinação, perseverança e altruísmo.
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