24 de jun. de 2005

Ainda não vimos tudo

Em diferentes jornais, leio inteligentes editoriais, onde é clara a cobrança por mais ética na vida pública; sinto crescer um clamor popular de descontentamento, notório nos artigos enviados e nas cartas dos leitores. Exigem qualidade na educação, mais segurança, melhoria nos serviços de saúde, reclamam do exagero de impostos a consumirem os minguados salários.

Em resposta, ouvem que a máquina administrativa não suporta tantos compromissos sociais, não sobra para aumentar os salários defasados de funcionários e professores, melhorar as condições físicas das escolas e hospitais, pagar as contas em dia, qualificar o serviço de segurança. O Estado está em crise financeira, mas o povo precisa fazer a sua parte, é a resposta recebida.

Também é necessário aceitar como natural a violência, motivada pela miséria; os “flanelinhas” são fruto do desemprego, por isso a sociedade deve arcar com mais este ônus; os meninos malabaristas nas sinaleiras são a cara do Brasil e, como tal, haja paciência e sorrisos ao dizer “não”, para não incentivar a mendicância; os presídios abarrotados propiciam fugas e motins, os presos possuem armas, em plena campanha de desarmamento, além dos telefones celulares, para conservarem os seus contatos. Uma palhaçada, enfim.

Enquanto tudo isso ocorre, semanalmente, abrimos a revista responsável por nos abrir os olhos, ao que parece, e lá descobrimos novos escândalos e distorções: a Amazônia sendo desmatada pelos madeireiros, em troca de subornos pagos a funcionários do IBAMA; o deputado e escritor Fernando Gabeira, decepcionado, renega todo o seu passado de militante esquerdista, considerando que, com Lula, a classe operária não só chegou ao poder, mas acreditou haver chegado ao paraíso e, com isso, se deslumbrou; estouram as denúncias de corrupção nos Correios e o próprio governo faz o impossível para impedir a CPI; o principal acusado no caso dos Correios resolve morrer atirando e sobram balas para todo o lado, expondo a ferida aberta da democracia em crise.

Poucos políticos se salvam, nas discussões ridicularizadas com graça na internet, as “Vossas Excelências” apontadas com o dedo como recebedores do Mensalão para apoiarem determinadas medidas do interesse governamental. A cada dia, surgem mais e maiores denúncias.

Houve tempo em que achávamos de bom-tom afirmar que não nos interessávamos por política, delegávamos poderes, através dos votos, para os eleitos resolverem os destinos da nação. Agora sabemos que a maioria deles não está preparada, grande número lá está para forrar os bolsos, os poucos que se salvam precisam do nosso apoio e da fiscalização, para tentarem fazer alguma coisa. Inclusive, a maneira como trocam de partidos e as estranhas alianças realizadas são boa demonstração da confusão de seus ideais políticos.

Por isso, as pessoas capazes e idôneas têm a obrigação de fazer política da forma que puderem, seja exercendo cargos em sindicatos e associações, seja fiscalizando ou apenas trocando idéias. Só não vale reclamar e cruzar os braços. O Brasil merece que lutemos pelo direito de nos orgulharmos dele. E, do jeito que está, fica difícil.

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