21 de jun. de 2005

Brasil: Democracia adolescente

Na mesma semana em que o Brasil inteiro assistia, entre estarrecido e envergonhado, ao festival de escândalos proporcionado pela CPI dos Correios e pela denúncia do Mensalão, que teria sido pago pelo tesoureiro do PT a alguns deputados, um grupo de estudantes brasileiros, pertencentes à Faculdade de Direito da UCPEL, Universidade Católica de Pelotas, participava da III Jornada Interuniversitária de Direito Constitucional, realizada em Montevidéu, Uruguai.

Por estranha coincidência, o trabalho apresentado pelo grupo se chamava “Brasil: democracia adolescente”. Em virtude da limitação do tempo, o histórico, iniciado no período da ditadura, lembrou de forma rápida várias passagens da vida política brasileira. Em determinado momento, foi mostrada a foto de um homem barbudo, com cabelos compridos e mal cuidados, tendo na camiseta a numeração que o identificava como prisioneiro político, enquanto um dos quatro apresentadores falava:
_“Este homem, que foi perseguido por seu cabelo comprido, sua barba, suas manifestações políticas e suas idéias socialistas, considerado pelos militares, naquela época, um perigoso comunista, foi justamente o homem em quem o povo brasileiro depositou suas esperanças de transformação da realidade”.

Na seqüência imediata, ao lado da primeira foto, apareceu outra, em que aparecia o mesmo homem, quase irreconhecível, agora bem perfilado, corte de cabelo e barba impecáveis, trajando terno Armani. No peito, trazia a faixa de presidente da República do Brasil.

As imagens do presidente Lula, antes e depois, apresentadas através das lâminas do Power Point, causaram enorme alvoroço na platéia, composta principalmente de uruguaios, argentinos, chilenos, peruanos e guatemalenses. Após o evento, numerosos participantes se acercaram, para aplaudir, trocar idéias e afirmar a grande identificação que haviam sentido entre a democracia vigente em seus países e a brasileira. Uma democracia adolescente, como nos conforta compreender.

A idéia central do trabalho apresentado era que, tendo o Brasil somente 17 anos de democracia, pois o período da ditadura desacostumou os cidadãos a exercerem os seus direitos, a política, em nosso país, obedece a humores e demonstra comportamentos alternados de maturidade e criancice. Ora a democracia se mostra com excepcional maturidade, como no momento da apuração eleitoral, digna de causar espanto e inveja a muitos países de primeiro mundo, ora parece criança manhosa e mal-formada, como nessa série de escândalos que prendem os telespectadores à tela da TV, mostrando o despreparo dos homens e mulheres que detém o poder de decidir por nós.

Com tais lembranças, não há a intenção de aprofundar a catástrofe, pois decerto é mais proveitoso dividir a idéia que a democracia precisa de tempo para o amadurecimento. Mas, tal como o adolescente, não pode se estender demais nesse processo, sob pena de perder a credibilidade. Por outro lado, da mesma forma que, no passado, os caras-pintadas tiveram papel importante na moralização do país, agora é a opinião pública que exerce este papel, conforme alerta o mesmo trabalho dos estudantes de Direito da UCPEL.

Os políticos temem a voz do povo, desse povo que vota, paga os seus salários e recém começa a compreender o seu poder. O jogo de cena presenciado na telinha obedece ao seu empenho em conquistar o eleitor e garantir o próximo mandato. A fiscalização e o voto consciente contribuem para que a nossa democracia se torne adulta, porque “ninguém suporta uma adolescente de trinta anos”.

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