Desde os pátios da infância, são excluídos os gordinhos, os “quatro-olhos”, os muito feios, os narigudos, os tímidos. Mesmo alguns de condição social superior ou os que obtém as melhores notas podem ser segregados, por não saberem os outros como lidar com eles. De qualquer forma, em algum momento _ ou em vários, com certeza _ todos enfrentam a frustração de não pertencer, sentir-se diferente. Ninguém pode afirmar que jamais se sentiu excluído.
Na infância e, com maior ênfase, na adolescência, somos capazes de gestos extremados para nos sentir “parte de”. A turma tem enorme poder sobre os jovens. Para integrá-la, alguns abdicam de valores em que acreditam, fingem não perceber as coisas que incomodam, renunciam ao amigo não aprovado ou à namorada não aceita pelo grupo. Tudo pelo prazer e a glória de ser considerado daquela turma. Com o passar do tempo, ao olhar para trás, sem a visão distorcida da juventude, podemos rir de nós mesmos e do nosso ridículo empenho em “pertencer”. É comum, então, a comprovação de quão tolos eram os nossos ídolos.
Contudo, algumas pessoas estendem esse tipo de comportamento além da pretensa maturidade. Passam a vida representando papéis estereotipados, tentando enquadrar-se em determinados grupos, falando a mesma linguagem, copiando as expressões agradáveis às lideranças. É estarrecedora a percepção de que muitos parecem brincar de “seguir o líder”, sem maiores questionamentos, ainda pelo gosto de pertencer. Sem o grupo, determinadas pessoas não existem. Por isso alguns se fecham em círculos pequenos, onde não desejam intrusos; outros olham com maus olhos o desprevenido que se acerca, buscando companhia; terceiros esperam saber a opinião da maioria, antes de emitir a sua.Mulheres gostam de “colocar a outra em seu lugar”, com olhares de cima a baixo, examinando dos cabelos à roupa, passando pelas unhas, para descobrir se manicuradas ou não.
Crianças ficam tristes, quando são esnobadas pela aniversariante, que não as convidou para a comemoração do aniversário. Adultos são capazes de coisas incríveis, a fim de se sentirem entrosados. Também podem se humilhar e fazer aberrações, para conseguirem certos convites. A exclusão desperta a criança rejeitada em cada um.
No entanto, o sentimento de libertação é incomensurável, quando conquistamos o direito de pensar por nossa conta, decidir sozinhos, arcar com as conseqüências das nossas decisões e escolhas. É a liberdade de sermos nós mesmos, permitindo aos outros serem da forma que desejarem. Mas essa conquista é trabalho árduo e pra vida inteira, conforme as situações mudem ou mudemos nós.
Numa sala cheia de gente, quando cada um tiver o seu retorno à infância e todos nos excluírem, como fazem as crianças para castigar os amiguinhos rebeldes, podemos nos pegar pela mão e passear pelo jardim encantado da imaginação, onde tudo é permitido. Lá não são aceitas as bruxas malvadas e os duendes invejosos, por isso estaremos seguros. Lá, não existe a inclusão.
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