Às vezes, sou presenteada com uma linda orquídea, que enfeita a casa por dois meses, se bem cuidada.Quando fenece, ela é retirada do vaso e amarrada à corticeira em frente à casa, onde terá oportunidade de desabrochar, junto às outras que ali também esperam o milagre da renovação. Troco rápidos olhares com elas, ao entrar e sair pelo portão, como incentivo para cada uma e fortalecimento da minha esperança. Porque, quando alguma me oferece o espetáculo de suas pétalas abertas, sinto renovadas muitas outras certezas.
No retorno à casa, após longa ausência, presa à corticeira, a orquídea me deu as boas-vindas, multiplicada em flores em tons branco e lilás.O portão abriu, fui entrando devagar, receosa do que iria encontrar, após tanto tempo, e lá estava ela, esplendorosa.
Olhei para o alpendre, à procura das floreiras e elas também deram as boas-vindas, carregadas de flores. É verdade que o capacho da entrada foi mastigado pelos cães, em crises de carência emocional, julgando-se abandonados pelos donos – mas isso só percebi depois. Pior – mas eu já tinha conhecimento – foi a cadela Akita ter morrido, após breve enfermidade. Três meses é tempo demais para alguém passar longe de casa e pretender encontrar tudo igual, na volta. Por isso, não posso me queixar das minhas perdas, .
Não pensei assim, no primeiro momento, quando fui convencida, após uma histerectomia, a fazer uma quimioterapia preventiva, por mim considerada desnecessária. É difícil uma mulher de aparência saudável, cheia da alegria de viver, acreditar que deve se submeter a uma quimioterapia. Principalmente, se for apenas preventiva.
- Então, esse médico detesta pessoas saudáveis – falei, birrenta, quando marido e filhos explicaram que, após terem relatado ao oncologista as minhas condições favoráveis, ele afirmara que, justamente nesse caso, recomendaria.
O quadro pintado pelo oncologista era terrível: náuseas, enjôos, prisão de ventre, diarréia, queda do cabelo, inchaço ou emagrecimento exagerado. Só pra contrariar, com inexpressivos efeitos colaterais, fui passando incólume pelo tratamento. No final, um grande cansaço quase me venceu, o suficiente para provar que não me davam água com açúcar, o que os familiares já sugeriam, de brincadeira.
Decerto foi o enorme apoio e carinho recebidos, que me obrigaram a enfrentar com ânimo forte e alegria as novas situações.Ajudada pela obstinação em levar vida normal, fazer as compras corriqueiras, interessar-me pelas pessoas. Ou a sensação de dor varia de uma pessoa para outra, não sei. A recusa ao papel de vítima também deve ser importante, mas ela é automática, quando, na sala de espera, se vê jovens mães levando seus bebês carequinhas ao colo, obrigando à compreensão de que são eles os atingidos. Ou quando se observa casais muito jovens amparando-se nessa hora, e se pensa se terão estrutura e amor suficiente para vencer a caminhada. Mas tudo passou, mais rápido e fácil do que o previsto, por isso escrevo sobre a experiência, para que outras pessoas não tenham receio e enfrentem com ânimo a situação, caso se apresente. Teimosas como as orquídeas que insistem em desabrochar. Apoiando-se em seus amores-corticeiras, para deles absorver a alegria e vitalidade necessárias e assim enfrentar as surpresas da vida.
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