8 de out. de 2005

O melhor presente

Em outubro, as atenções se voltam para as crianças. No centro comercial, vejo mães e pais com os filhos pela mão, escolhendo presentes.A menina pobre pareceu indecisa entre tantas ofertas de bonecas, quando passou pela barraca do camelô, mas compreendi que ela também teria direito à sua escolha. Afinal, no Dia da Criança, é justo que seja a prioridade.
Não pensa dessa forma a outra menina, aquela que pintou o quadro com a bandeira do Brasil e, no lugar das estrelas, colocou carinhas de crianças, para lembrar que elas são as estrelas principais desse Brasil inconseqüente e omisso. Um dia é pouco para lhes dar prioridade.
Mas o tipo de importância que as crianças necessitam é diferente da que muitos pais e mesmo o Estado costumam lhes oferecer. As crianças clamam por oportunidades, mas também por limites; desejam compreender as regras, mas sabem cumpri-las.Por espertas que sejam, na atualidade, em virtude dos conceitos adquiridos através dos programas televisivos e nas conversas desenvolvidas nos pátios das escolas, continuam imaturas e carentes de atenção e cuidados. Que, se não forem fornecidos nos primeiros anos, serão cobrados na adolescência, com comportamentos capazes de chocar os próprios pais e a sociedade.
Algumas crianças não têm o direito de trazer os seus amigos para dentro de casa, devem brincar e jogar na rua ou no clube, para comodidade dos pais, que não querem barulho, nem se incomodar com o fornecimento de lanches à tarde. Com essa atitude, que por sorte não é regra geral, pois muitos pais têm outra disponibilidade, a sua fome de atenção também não é saciada. Entregues à própria sorte, acostumam-se a se virar sozinhos, sem controle, terror dos porteiros dos prédios, esses obrigados a se transformarem em educadores. Mais tarde, quando os jovens começam a causar problemas, os pais se declaram estarrecidos, sem entender as causas.
Crianças precisam de longas conversas, de momentos em que se sintam o centro das atenções e de outros em que sejam levadas a ficar quietas, porque os outros também têm seus direitos. Precisam de um espaço seu e do aprendizado para respeitar o espaço dos outros, como o direito dos adultos de falarem ao telefone sem ser interrompidos e o de poderem conversar entre si sem sofrer contínuas interrupções. Além do direito que muitas mães não sabem possuir, que é o de não ter sua bolsa remexida, durante as visitas, ou seu armário vasculhado, para a filha adolescente escolher a melhor blusa e sair com ela. Crianças devem ser preparadas para enfrentar o mundo, que não será condescente com as suas fraquezas como alguns pais costumam ser.

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