Entre as inúmeras declarações de políticos e autoridades da segurança nacional sobre a onda de motins liderada pelo Primeiro Comando da capital (PCC),em São Paulo, uma chamou a atenção: Não podemos tolerar o intolerável.
Logo apareceram algumas cenas de Nova York: pessoas passeando pelas ruas, crianças brincando no parque. Há poucos anos, contudo, não seriam essas as cenas apresentadas. Foi em 1993, quando o índice de violência atingiu níveis elevadíssimos, que o então prefeito, Rudolph Giuliani, resolveu dar um basta, criando o programa Tolerância Zero.
Além de medidas saneadoras, como a construção de novos presídios e regras de segurança rígidas, medidas educativas também foram tomadas, com o objetivo de criar uma nova mentalidade. A ordem era não ignorar as pequenas contravenções do dia-a-dia, como pichações e desordens; resolver os pequenos problemas da comunidade, antes que tomassem maiores proporções.
Também foi incentivada a vigilância comunitária, onde os cidadãos são chamados a participar ativamente na segurança das ruas, através de denúncias rápidas e sugestões às autoridades. Dessa forma, a comunidade se tornou participante do processo de segurança.
Os partidários do Tolerância Zero acreditam que a ordem deve começar em cada comunidade. O fato de uma pequena contravenção ser ignorada é a permissão para que outras aconteçam e breve aumente o tamanho e a importância dos delitos. Se for ignorada a atitude de um jovem que quebrou uma janela na rua, outros jovens se considerarão com carta branca para quebrar mais janelas e cometer deslizes maiores.
Em 2006, Nova York é citada como fenômeno em redução da criminalidade. Foi possível reverter a situação, substituindo os discursos vazios pela vontade de fazer funcionar.
Descobrimos agora que não podemos tolerar o intolerável.
O intolerável já nos vem sendo empurrado, há muito tempo, goela a baixo. Para suporta-lo, transformamos a nossa frustração em piadas, tirinhas e e-mails sarcásticos, distribuídos como pastilhas contra acidez.
A corrupção, o oportunismo e a impunidade se tornaram parte da nossa cultura. Para os espertos, acostumados a ter sucesso com falcatruas, ser ético é coisa de otário. Mas o caos social a que chegamos não parece coisa de gente inteligente. Apresentar ao mundo a imagem de uma nação dominada pelo medo e pela insegurança,em lugar do Brasil turístico e apto a receber investimentos que desejamos ser, isso sim é papel para otários.
Procuram-se, com urgência, líderes éticos, capazes e inteligentes. Os outros se tornaram intoleráveis.
Um comentário:
Marta!
Sem exagero,escreves muito melhor que muito jornalista formado.
Vais ao ponto, com clareza, não deixando dúvidas sobre a matéria que selecionas.
Ruthe
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