Em crônica anterior, escrevi sobre a arte da comunicação. Finalizei com a frase:”Pena que, na conversação, não exista o botão Delete” _ referindo-me aos recursos do computador.
Comentava a necessidade de usarmos uma linguagem clara, objetiva, mas talvez tenha me faltado justamente a clareza. Por isso me explico melhor: seria bom poder deletar todas as palavras impensadas ditas em momentos de raiva e emoção.
Quando nos fazemos entender, subtraem-se as suposições e conclusões apressadas, essas perigosas fagulhas, capazes de incendiar os melhores relacionamentos. Mas, em inúmeras ocasiões, nem entendemos, nem somos entendidos.
A conversação tem este problema: pensamos uma coisa e dizemos outra; mostramo-nos interessados e somos mal interpretados; usamos de discrição e somos taxados de indelicados, por ignorar as vitórias e feitos que o outro desejava contar.
Quando a falta de intimidade não nos proporciona a desenvoltura desejada, medimos as palavras. Com cuidado semelhante ao que as mulheres costumam ter com a bolsa a tiracolo, numa loja de cristais, tateamos entre um tema e outro,temendo causar estragos.
Na intimidade é que mora o perigo. Em seu nome, às vezes nos portamos como desajeitados elefantes, pisoteando sentimentos, esmagando vaidades. No rastro do orgulho ferido, sobram os cacos do amor ou da amizade. Depois, a gente descobre que fez tudo errado, pensou que intimidade era apontar os erros e defeitos, bancar o juiz, ser mais agradável com o vizinho que com o companheiro. Julgou que cobrança era sinônimo de crescimento, e veja só: a rima era afastamento.
Nesses momentos é que seria bom se pudéssemos clicar uma tecla e anular o que foi dito, apagar o mal feito, zerar tudo pra recomeçar. O “Delete” seria bem-vindo, se nos jogasse no estágio anterior ao “Eu avisei”, “Não falei?”, “Agora te vira”, bem antes do “Não te arrisca” e do “Não é pro teu bico”.
“Delete” seria a oportunidade de refazer os passos, com a experiência adquirida e sem mágoas ou rancores. Como crianças encantadas com o brinquedo novo, voltar a rir juntos, deixar que riam de nós; trocar o sarcasmo pelo elogio; em lugar de apontar as falhas, criar incentivos; tratar o íntimo, seja marido, mulher, namorada ou filho, com a mesma educação com que se trata o recém-conhecido.
Um prêmio, rápido, para quem inventar o botão “Delete”, próprio para aplicar em qualquer tipo de relacionamento. Falei coisa imprópria? Deleta! Fui crítica, mal-humorada, chata, atrasada? Deleta!Fui negativa, invejosa? Deleta! Escrevi bobagens? Deleta!
Além disso, prevendo as precipitações, o computador, tem outra tecla, muito utilizada: a flechinha que possibilita voltar atrás, quando surge o arrependimento, logo após deletar um trecho inteiro. Seria pedir demais, desejar também uma flechinha de retorno ao que se perdeu? Para não virar bagunça, fica combinado: esta tecla só se poderia apertar uma vez na vida.
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