Sílvio de Abreu falou, tá falado. Os sinais estão aí, para qualquer um ver. Mas precisou a declaração do autor da telenovela Belíssima, em entrevista publicada na revista Veja, de que se achava chocado com a moral da população brasileira, para o Senado resolver encarar a situação. Através de pesquisa efetuada pela TV Globo, ele chegou à conclusão de que a torcida era pelos bandidos da história e não pelos mocinhos, como seria de se esperar.
As pesquisas visam determinar, através do IBOPE, quais os rumos que cada novela deve tomar, para agradar aos telespectadores. A pesquisa também determina o final ideal. Embora só tenha assistido a um capítulo da novela, sei que o final foi a empresária Bia Falcão, personagem interpretada pela atriz Fernanda Montenegro, num luxuoso apartamento em Paris, festejando com champagne a vitória da astúcia e do mau-caratismo, com o namorado que ela surripiou da amiga e confidente.
Graças à comprovação de Silvio de Abreu, senadores da Comissão de Educação resolveram desengavetar um projeto da autoria do senador Pedro Simon, para tornar obrigatória a disciplina Ética e Cidadania no ensino Fundamental e no Médio. Desde 1997, o projeto esperava um olhar de interesse.
Fora o fato de que qualquer pessoa normal, assistindo a uma novela, logo se vê torcendo pelo bandido, tão idiotas e bonzinhos costumam ser as mocinhas e os mocinhos, é preocupante a comprovação do afrouxamento da moral em todas as classes sociais.
Por outro lado, a televisão extrapola o papel de deseducadora, quando se limita a obedecer ao IBOPE, porque, queiramos ou não, ela é formadora de opinião. Da mesma forma que lança moda, diz qual o produto que se deve pegar na prateleira do supermercado, ela faz a cabeça das pessoas, determina os rumos da moral.
O projeto para implantação do ensino de Ética e Cidadania ainda precisa receber a aprovação da Câmara dos Deputados, mas agora decerto vai. Sílvio de Abreu falou, tá falado. Pelo menos alguém se fez ouvir.
A Filosofia e a Sociologia, disciplinas que desenvolvem o pensamento crítico, foram banidas há quarenta anos do currículo escolar.A boa notícia é que as duas matérias já foram aprovadas para, até 2008, constarem do currículo de todas as escolas públicas e privadas de Ensino Médio.
Poder-se-ia pensar se haverá necessidade de lecionar Ética e Cidadania em disciplinas à parte, agora que Filosofia e Sociologia já constarão do currículo obrigatório e as discussões deverão abranger as primeiras matérias. É oito ou oitenta, podemos pensar. Mas, do jeito que o paciente Brasil se apresenta, na UTI da ética, quadro sério de convulsão social e falta de ar ocasionada por excesso de corrupção e safadeza, só mesmo um tratamento de choque para salvá-lo.
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