12 de ago. de 2006

A figura paterna

No programa na TV, uma mulher falava da dificuldade em aceitar o filho do casamento anterior do marido. Apesar de o pai só receber o filho de quinze anos de duas em duas semanas, o fim-de-semana que lhe correspondia se transformava num inferno, pois ela não aceitava a divisão de atenções. Morria de ciúmes, segundo falou.

Quando o casamento acaba, “meu bem” passa a ser chamada de “megera”, “vadia” e outros termos mais fortes. Ex-marido vira “o sem-vergonha”, “aquele ordinário”, só pra começar. Com o tempo, salvo raras exceções, as denominações pioram.

Relacionamentos e casamentos terminam, cada vez com maior freqüência. Sobram mães frustradas e assoberbadas de responsabilidades, pais revoltados com o pagamento das pensões, ambos transtornados com as imposições dos novos parceiros. No meio da briga, os filhos, girando as cabecinhas de uns para os outros, à espera do novo round.

Se, por um lado, é saudável a atitude dos casais que se separam, quando a convivência se transformou em sacrifício, por outro é criminosa a dos pais e mães que envolvem os filhos nos problemas do casal, obrigando-os a tomar partido e fazer escolhas.

Na separação, ainda o mais comum é os filhos ficarem com as mães. Há mulheres solteiras, separadas, abandonadas, viúvas, divorciadas, responsáveis pela guarda dos filhos. Algumas conseguem manter um bom relacionamento com o pai, a despeito da corrente contrária à volta. Poucas têm o discernimento para entender que, em questões de amor, não há um único culpado. No mínimo, houve erro na escolha.
Há pais leais, participativos, amorosos, em cuja casa o filho sempre encontra espaço. Também há pais ausentes, alguns banidos pela má-vontade da mãe, outros omissos pela influência sutil da nova mulher. Como se ela não soubesse, desde o início, o kit que carregava.

Distanciados da figura paterna, os filhos são privados de um componente na sua preparação para a vida. Quando única responsável pela educação dos filhos, a mãe se vê obrigada a desempenhar os dois papéis. Muitas vezes, torna-se mais dura e exigente do que desejaria; em algumas, perde o caminho de volta para a ternura; em outras, encontra na permissividade total o conforto pela falta da qual se sente culpada. Em todas essas situações, perde a criança.

Nesse caminho tortuoso, para quem tem sorte, surge a figura do pai substituto. Pode ser o avô, o novo companheiro, um tio ou o irmão mais velho. Alguém generoso o suficiente para amar e educar o filho que não gerou. Mas, sendo substituto, seu papel é limitado, tanto pela desconfiança do filho, como pela proteção da mãe-leoa. Perde novamente a criança.

Mesmo distantes, em convivência esporádica, a idealização do pai é importante para a formação da criança. Os adultos agem de modo egoísta, quando envolvem os filhos pequenos em suas brigas. Depois que crescerem, eles chegarão às suas próprias conclusões e talvez peçam maiores explicações. Mas, enquanto estão em formação, precisam ser poupados dos detalhes mesquinhos.

Mesmo quando as crianças aparentam concordar com a opinião generalizada de que o pai é um cafajeste, é preciso ter cuidado: no fundo, ela desejaria tê-lo como herói. E se mães, avós, tios e amigos respeitarem a criança, o melhor será deixá-la acreditar. Ganha o adulto em que um dia ela se tornará.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marta!
sinto-me feliz por ter tido um pai maravilhoso, presente e muito e muito amoroso.
Mas tenho a opinião formada de que não existe ex-pai para as crianças e que a mãe não pode misturar os relacionamentos!O pai pode ter sido um péssimo marido, mas não quer dizer que tenha sido um pai ausente.É preciso ter muito cuidado com as palavras - elas podem marcar as crianças de forma irreparável para o futuro, como adultos.
Beijos

Anônimo disse...

bah! vin tecer uns reles comentários e acabei criando um blog p mim isso até parece um íma p cibernautas simplorios e inesperients. mas enfim, gostei mt da atualizada proposta da crônica ("a figura paterna") e concordei com a tua conclusão acerca do tema. ah! ñ posso deixar d mencionar o qanto surpreendentement agradavel foi ler os termos funkeiros p qalificar os "exs". mas fiqei encucado sobre uma expressão q usastes na última frase do 5º parag, p mim é contradizer à idéia exposta, dizer "no mínimo" acredito q deveria estar escrito: "no máximo". ou será q m perdi no caminhu da interpretação??? bjs